A estilista Fernanda Yamamoto mergulhou na comunidade Yuba, de Mirandópolis, a 600 km de São Paulo, para criar sua coleção, apresentada nesta terça-feira (24), no São Paulo Fashion Week. Fundada na década de 1930 pelo imigrante Isamu Yuba, a comunidade tem filosofia autossustentável. Tudo é de todos. Lá não circula dinheiro, as pessoas plantam, produzem os alimentos e comem juntas. Ao lado disso, a arte, da música à dramaturgia, tem o mesmo peso do trabalho.
Na passarela, modelos e integrantes da comunidade mostraram as criações de Fernanda, elaboradas a partir de círculos, triângulos e quadriláteros. “Quisemos incorporar a filosofia yube em nosso processo criativo. Do tingimento à confecção, procuramos dominar todos os processos, diminuir o desperdício, trabalhar manualmente cada peça e construir um trabalho coletivo feito a muitas mãos”, afirmou Fernanda em seu material de divulgação.
A monocromia, numa cartela de cores com terrosos quentes e frios, trazia pitadas de amarelo, azul,verde, rosa, roxo e branco. Os looks misturavam peças leves e mais pesadas, como os tecidos plissados e volumosos, com trabalhos de tricôs de algodão, como os obis (faixas na cintura), aventais, toucas, faixas e bolsos. Todos os tecidos foram tingidos artesanalmente, com plantas da própria comunidade, como urucum, folha de caju, casca de cebola etc.
Um trabalho para se apreciar, ver e vestir com a consciência tranquila e a alma leve, que pode ser embalada ao som do violoncelo de Yarani Assaka Yuba, que tocou durante o desfile. Detalhe: o instrumento foi feito pelo luthier Kensaku Yuba, da comunidade.