Mariana Ximenes abriu o Festival de Cinema do Rio de Janeiro, que quase não aconteceu neste ano, com um vestido-manifesto feito por Thomaz Azulay, da grife The Paradise, com estampas de vários cartazes de filmes nacionais. A atriz nem precisava fazer seu discurso de abertura, porque o recado estava dado. Mas ela falou e colocou muito bem o momento pelo qual o cinema nacional está passando, com perda de financiamento e nenhum apoio do governo
A roupa, uma espécie de caftã, vem com colagem de vários filmes que tiveram repercussão internacional, incluindo “O Pagador de Promessas”, dirigido por Anselmo Duarte, único a conquistar a Palma de Ouro, prêmio máximo de Cannes, em 1962. “Celebrar a abertura do Festival do Rio este ano é uma vitória para a cultura nacional. O evento é tão emblemático e quase não aconteceu. Mas nos mobilizamos e colocamos o festival na rua. E seguimos lutando. Nosso cinema é tão rico, tão diverso, tão plural. E histórico. E eu trouxe essa história no meu vestido, no palco comigo”, disse em seu discurso.
Sem dúvida, o recado fashion dado por Mariana Ximenes com seu look vai muito além da moda. É uma forma de resistência contra a perseguição a produções nacionais relevantes. Coincidência ou não, o vestido foi usado uma semana após a diretoria da Ancine (Agência Nacional de Cinema) retirar de suas paredes vários cartazes de produções brasileiras. O material foi guardado no acervo na instituição.
A roupa usada por Mariana Ximenes traz ainda cartazes de “Cidade de Deus”, indicado ao Oscar como Melhor Filme e Melhor Atriz, para Fernanda Montenegro, além de “Vida Invísivel”, do diretor Karim Aïnouz,, inscrito para concorrer como Melhor Filme Estrangeiro no Oscar (a relação oficial ainda não foi divulgada) e de “Bacurau”, Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, ambas produções ganhadoras de prêmios em Cannes neste ano.
O primeiro, recebeu o prêmio da mostra “Um Certo Olhar”, e “Bacurau” ganhou o “Prêmio do Júri”. Lembrando que esta semana, Ancine também cancelou exibição de “A Vida Invisível”, que aconteceria como parte de um programa de capacitação de servidores e contaria também com um debate. Fernanda Montenegro, que foi hostilizada pelo diretor de Cultura Roberto Alvim, estrela o filme.
O look prova que um roupa pode e deve ser um veículo de comunicação importante, ainda mais vindo de uma pessoa com status de celebridade, conhecida pelo público em geral, mas que sabe defender a classe artística e cultural do Brasil. “Ontem tive a missão de apresentar o Festival de Cinema do Rio de Janeiro. Eu queria estar vestida com imagens de filmes brasileiros, verdadeiros “estandartes” da cultura brasileira. Contei com a ajuda de um time maravilhoso para realizar meu sonho de vestido”, escreveu em sua conta no Instagram.
Mariana tem como stylists a dupla Juliano Pessoa e Zuel Ferreira. A The Paradise tem também como sócio Patrick Doering. Lembrando que o outro dono da marca, Thomaz Azulay, é neto de Anselmo Duarte e lembrou isso em sua conta no Instagram. “Mariana Ximenes com look The Paradise. Uma homenagem à memória da cultura nacional, um dos nossos pilares de resistência e liberdade. Também ao legado do meu avô, Anselmo Duarte, diretor d’O Pagador de Promessas.”
O recado está dado. E se alguém perguntar se o look é tendência, a resposta só pode ser: “É sim”. Afinal, cultura, educação e arte nunca saem de moda. Fica a sugestão de a peça ser produzida em série com renda revertida ao cinema nacional.