De vendedora de celular no Maranhão a recordista dos desfiles da 47ª edição do São Paulo Fashion Week. Amira Pinheiro, 23 anos, passou por 22 passarelas na última semana e abriu grande parte das apresentações. Do alto de seu 1m80, com 75 cm de busto, 60 cm de cintura e 88 cm de quadril, a modelo negra representa nova fase da moda brasileira. A morte do modelo Tales Cotta, após passar mal no desfile da Ocksa, porém, veio trazer outros questionamentos na moda daqui para frente, mesmo se tiver sido apenas uma fatalidade.
Se já houve manifestos de movimentos negros e até a assinatura de um termo de conduta do Ministério Público, em 2009, exigindo que 10% dos modelos fossem negros, afrodescendentes e indígenas, o fato de Amira ser a recordista prova que houve mudanças significativas no entendimento das grifes na hora de montar seu casting.
A quantidade de negros na passarela, ainda que não seja possível contar, é notório no evento. “Ver isso acontecer na moda é mais do que uma vitória, é uma realização de transformação. Sempre buscamos a diversidade nos desfiles e isso é uma realidade agora”, disse Paulo Borges, diretor criativo e idealizador do SPFW, em entrevista coletiva na última sexta-feira (26).
Para Amira, o fato de uma negra ser a recordista não deveria ser tabu. “Isso tinha que ter acontecido desde os primórdios da moda no Brasil. Temos uma das populações mais miscigenadas do planeta”, disse.
A maranhense era recepcionista e vendedora de celulares, até desfilar para Marc Jacobs e Oscar de La Renta. Começou fazendo aulas em sua cidade e logo depois foi convidada a participar de um concurso, onde ficou entre as 10 finalistas. Mudou-se em 2014 para São Paulo.
Confira entrevista da recordista ao “Elas no Tapete Vermelho”, feita sexta-feira (26), um dia antes da morte do modelo Tales Cotta.
Elas no Tapete Vermelho – Até pouco tempo atrás, a questão de não ter modelos negros na passarela era motivo de protesto. Como se sente sendo recordista desta edição?
Amira – Isso não deveria ser um tabu, ainda mais numa sociedade como a nossa, que tem a população mais miscigenada no planeta. Deveria ser uma coisa normal desde os primórdios da moda no Brasil.
Não estou aqui pela cor da minha pele, mas pelo que eu galguei, os degraus que eu subi, as coisas que eu conquistei.
Elas no Tapete Vermelho – Mas você vê isso como uma conquista para a raça negra?
Amira – Uma conquista não, mas uma forma de dizer para minha etnia que estamos sendo representados. Mas o que deveria mudar é a visão de só por que é negro e conquistou algo é legal. Todos nós somos capazes. Não estou aqui pela cor da minha pele, mas pelo que eu galguei, os degraus que eu subi, as coisas que eu conquistei. Eu fiz meu caminho, não comecei só agora. No Brasil é uma coisa nova ter modelos negros na passarela, mas já venho fazendo isso há muito tempo. Não sou reconhecida pela minha pele, mas pelo meu profissionalismo. É isso que que eu espero.
Elas no Tapete Vermelho – Você esperava ou sonhava com isso?
Amira – Nunca sonhei em ser modelo, foi acontecendo com o tempo. Apareceu como um trabalho e é uma profissão que eu estou levando a sério, Estou fazendo de tudo para que dê certo.
Elas no Tapete Vermelho – Qual um sonho a ser conquistado?
Amira – Minha independência financeira em 100%. Já tenho alguma coisa, mas é um degrau mais que quero subir.
Elas no Tapete Vermelho – O que seria se não fosse modelo?
Amira – Se não fosse modelo, gostaria de trabalhar com pessoas, em relações internacionais ou algo relacionado ao jornalismo, ligado a comunicação.
Elas no Tapete Vermelho – Qual sua rotina de preparação para uma semana de moda?
Amira – Para a semana de moda é basicamente evitar comer em excesso, porque eu preciso manter o corpo. Além disso, hidratação e alguns exercícios ajudam bastante. Gosto de caminhar, de estar em movimento, faço pilates algumas vezes. Mas nada obrigatório. Quando vejo que meu corpo está precisando, vou lá e faço.
Desfiles
Segundo a Way Models, agência de Amira, a top desfilou para Amir Slama , Cavalera, Fabiana Milazzo, Flavia Aranha, Aluf, Patricia Viera, PatBo, Modem, Reinaldo Lourenço, Beira, Lenny Niemeyer, Neriage, Lilly Sarti, Handred, Bob Store, Another Place, Apto 03, Led, Triya, Haigth, Borana e Lino Villaventura.