O terceiro dia da 48ª edição do São Paulo Fashion Week provou que, apesar de sobreposições, adereços e volumes estarem em alta, há um desejo de volta às origens, à calma e à tranquilidade em meio a um mundo agitado. Isso é traduzido pelo minimalismo e pelos trabalhos manuais. Se nas edições passadas, cores estridentes, como o neon, ditavam os looks, agora tonalidades mais básicas são vistas, como azuis, verdes e brancos.
Não quer dizer, porém, que a moda esteja isenta de qualidade. Pelo contrário. Para que o minimalismo seja eficiente, deve ser construído por mãos hábeis para que não caia no simplesinho e pronto. O mesmo acontece com bordados, crochês e macramês. Foi o que provaram grifes que desfilaram nesta quarta-feira (16), como Ângela Brito, Beira e PatBo e Victor Hugo Mattos, ambos que sempre colocaram um pé no barroco.
A mineira PatBo (as duas primeiras fotos da esquerda para a direita) apresentou sua coleção alto-verão, que incluiu moda praia, sem errar na mão em seus bordados, crochês e macramês, como no sutiã de crochê usado sobre camisa branca e na saída de praia verde de macramê sobre maiô nude.
Pela terceira vez desfilando dentro do Projeto Estufa, Victor Hugo Mattos, que adora o barroco, não deixou seu DNA para trás, mas trabalhou de forma menos ostensiva. O crochê apareceu em vários looks, como nos dois das foto acima (o terceiro e o quarto da esquerda para a direita). Os pingentes de acrílico, vidro, pérolas, metais e cristais estão lá, mas, como disse em seu material de divulgação, como vagalumes. Brilham de tanto em tanto, deixando o trabalho manual do crochê também em evidência.
Minimalismo
A estilista cabo-verdiana Angela Brito, radicada há duas décadas no Brasil, tem como premissa sempre o minimalismo a partir de peças trabalhadas por meio da alfaiataria. Apesar de exercitar em sua estreia no SPFW sobreposições e alguns volumes, a essência se sua “obra” estava lá. Mesmo em cores mais fortes, mas também em azuis, esverdeados e brancos.
Outra grife que prova o não excesso nas roupas, ainda que as modelagens sejam mais amplas, é a Beira, de Livia Cunha Campos, que mostrou uma cartela de azuis do mais claro ao mais escuro no desfile sobre o concreto do chão do Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Ibirapuera. As tonalidades, às vezes, se misturavam com o cinza do prédio. Com roupas sem gênero, em tonalidades e looks muitas vezes parecidos, que poderiam parecer repetitivos, mas que traziam a beleza do conforto e a suavidade da seda de casulos rejeitados, do linho, do algodão.
Casa no Campo
Essa volta dentro da gente, para nossa vida, nossa casa, nossa alma, também foi a proposta de Fabiana Milazzo, que desfilou na terça-feira (15) inspirada no verso “Eu Quero uma Casa no Campo”, imortalizada na voz de Elis Regina. Com técnicas de tingimento naturais, como açafrão, tecidos orgânicos, como seda e algodão, e paetês de escama de peixe, a mineira, que traz em seu DNA a exuberância dos bordados e aplicações da escola de moda de Minas, minimizou o tom. Trouxe algumas tonalidades quentes, mas também apostou nos verdes e no branco, com bordados discretos. Talvez a moda também esteja procurando uma “casa de campo, onde possa ficar no tamanho da paz e tenha somente a certeza dos limites do corpo e nada mais”. como diz a música composta por Zé Rodrix e Tavito.
Confira as filas finais dos desfiles
Victor Hugo Mattos
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Ângela Brito
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Beira
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Fabiana Milazzo
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