Rafael Caetano apresentou a terceira coleção no SPFW N57, nesta sexta-feira (12). Em entrevista exclusiva ao Elas no Tapete Vermelho, comentou que faz “o masculino inspirado no universo feminino” e também deu detalhes sobre seu mestrado em moda queer, realizado em Madri, Espanha.
Coleção
Na passarela, Rafael Caetano mostrou sua alfaiataria desprovida de rigidez, bem relaxada, com camisas e calças largas, muitas delas bicolores, com listras ou tecidos costurados de forma geométrica. Estampas do pássaro saracura, que habitava o rio 9 de Julho, hoje coberto pelo concreto, apareciam em branco sobre fundo azul, em cetim suede. Verde-oliva, amarronzados e bordô pontuaram a coleção.
Sarjas estruturadas apareciam em lavagens distintas em contraposição a cambraias leves e fios delicados de lurex, que levavam brilho discreto a várias peças.
“Esta é a terceira coleção no SPFW, inspirada no Mário de Andrade. Tem como pano de fundo para contar essa história a cidade de São Paulo. Como a gente vem trabalhando nas últimas coleções, a gente quis escolher um tema mais abstrato. Por isso, a gente vai falar da cidade através do olhar do Mario. A gente escolheu duas obras para fazer este trabalho. Uma delas é “Pauliceia Desvairada”, que fala de cartões-postais. E a outra é “Amar, verbo intransitivo”, que batizou a coleção”, explicou.
Mestrado em Madri
“Eu estou cursando mestrado em estudos de gênero, focado em LGBTQIA+, na Espanha, em Madri. É o primeiro mestrado no mundo focado no gênero. O gênero sempre me interessou. A minha roupa hoje é masculina, mas o início do estudo dela é sempre focado no guarda-roupa feminino. Então, a gente faz o masculino, mas sempre pensando nessa subversão de gênero. A moda feminina, o vintage. O masculino inspirado no universo feminino”, contou ao Elas no Tapete Vermelho.
“A minha dissertação está focada em um estudo comparativo entre duas marcas, nos contextos Espanha e Brasil. Aqui no Brasil, a Another Place, e na Espanha, a Palomo Spain. A ideia é dentro deste trabalho, dentro da metodologia, buscar parâmetros para entender o que a gente pode considerar moda queer, dentro dos contextos de cada um dos países. Se essas marcas valorizam as realidades dissidentes, quais tipos de dissidências estão incluídas no trabalho, alguns aspectos relevantes para a moda, por exemplo, através da comunicação do projeto audiovisual, na passarela o modelo que abre e o que fecha. Avaliar os trabalhos dessas duas marcas e entender como são formados esses preceitos para a gente entender um trabalho como queer.”
O que define uma marca queer?
“Sem dúvida, a palavra seria dissidência. Se tem modelos racializados no aspecto amplo, se tem contextos de faixa etária distintos, se não valoriza só moda jovem. Esse é um dos pontos super importantes do trabalho, porque a moda é focada no público jovem, não se interessa por outro público. Sem dúvidas, as dissidências, os refugiados, o corpo gordo, pessoas trans, o corpo da drag. Se a gente subverte a roupa na passarela. Se a gente coloca o masculino no feminino.”
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