Uma ótima notícia: a inclusão e a diversidade não têm volta no mundo da moda. A contar dos desfiles que já aconteceram na 55ª edição do SPFW, essa é a nova e ótima verdade fashion. O terceiro dia de desfiles (o primeiro com oito apresentações num mesmo dia) confirmou isso. Antes haviam desfilado João Pimenta (dia 22) e Isaac Silva (dia 24) também com essa pegada.
Negros, indígenas, modelos plus size, baixos, altos, mais velhos, pessoas com deficiência (com síndrome de Down, com perna amputada, com vitiligo), além de peças feitas por detentos, pessoas resgatadas de trabalhos análogos à escravidão, refugiados, mulheres trans. Todos de uma forma ou de outra estiveram nas passarelas da semana de moda de São Paulo, quer termina no próximo domingo (28).
E também famosos, como Camila Queiroz, Marvvila, Samuel Assis, Manoel Soares, Astrid Fontenelle, Vitão, marcaram presença representando algumas das marcas. Camila, por exemplo, desfilou com look que traz planta cultivada no tecido. Thelma Assis e Gianne Albertoni desfilaram para a ação especial da patrocinadora Localiza, que promoveu desfile de moda para vestir seus funcionários em 2024.
Confira resumo do que foi apresentado nesta quinta (25), tanto no Senac Lapa Faustolo, quanto no Shopping Iguatemi e no Komplexo Tempo.
Plantas cultivadas no tecido
Camila Queiroz encerrou a quinta-feira de desfiles do SPFW com um look orgânico que trazia folhagens de verdade plantadas nas mangas. A ousadia foi proposta pelo estilista Tom Martins, da grife que leva seu sobrenome.
A técnica, que já foi desfilada em Paris pela grife Loewe, é feita em parceria com a bio designer espanhola Paula Ulargui. Ela desenvolve peças em que plantas naturais crescem sobre o tecido, a partir do que descobriu em seu projeto de investigação do cultivo na superfície têxtil. É a primeira vez que a técnica é apresentada no Brasil. Ao todo foram quatro looks com as plantas.
Inclusão e globais
A incensada grife Meninos Rei apresentou a coleção “Pop Ancestral”, trazendo as heranças dos antepassados com um olho no futuro. O afrofuturismo proposto pelos irmãos Céu e Júnior Rocha veio com globais na passarela: a ex-BBB Marvvila, Manoel Soares, Samuel Assis, de “Vai na Fé”, num desfile inclusivo, com modelos de todas as silhuetas, além de síndrome de Down, como a modelo Maju Araújo, outra com uma das pernas amputada, mais um com vitiligo e mais velhos.
Crochê com diversidade e inclusão
O Projeto Ponto Firme, capitaneado por Gustavo Silvestre, levou seus crochês enfeitados com peças metálicas e plásticas cortadas a laser, inspirados em desenhos criados pela inteligência artificial, no Centro de São Paulo. Cores fortes, pontos largos e adereços que lembram fantasias carnavalescas pontuaram as peças com um pé no surrealismo, misturados a crochês de várias cores. Com Vitão na passarela e trilha sonora que teve Madonna e Tina Turner (falecida dia 24), fechando o desfile com “Paradise is Here”.
Os 40 looks da coleção foram desenvolvidos pelos participantes e egressos do projeto Ponto Firme, da Penitenciária Adriano Marrey, e também pelos alunos da Escola Ponto Firme, que conta com um grupo de mulheres imigrantes propensas ou resgatadas de trabalhos análogos à escravidão na indústria da moda, mulheres trans em situação de vulnerabilidade social, pessoas refugiadas, detentos e egressos do sistema prisional. Os jovens da periferia de São Paulo, que representam o coletivo Artesanato Chave, referência em acessórios e bonés de crochê.
Noiva, plus size e veterana
A estilista carioca Patricia Viera, especialista em couro, levou veteranas, plus size e noiva à passarela do SPFW montada no Shopping Iguatemi. Vestidos ajustado em tons cintilantes, como vermelho, verde, prateado e dourado vestiram as modelos. A modelo plus size e ativista do movimento body positive Letticia Munniz usou um vestido justo dourado, com decote em V e flores em 3D aplicadas sobre a peça. A hoje também médica Ana Claudia Michels desfilou com longo em tom vermelho e preto trabalhado com estampas criadas no couro em formato de cor. E a noiva em vestido branco rouxe véu com flores acopladas.
Sustentabilidade
A moda sustentável é também uma das preocupações da estilista Gih Caldas, que apresentou sua coleção intitulada “Empinando Pipas e Sonhos“, inspirada Os materiais usados na obra do artista plástico brasileiro Cândido Portinari. Entre os materias usados, estão matérias de origem reflorestada, fibras de bananeira, PET reciclado e algodão orgânico. Nos cabelos, foram algumas das principais matérias primas escolhidas pela marca.
Os cabelos em forma de esculturas, que lembram medusas foram criados por Marcello Costa e o objetivo é chamar a atenção para o empoderamento e a liberdade feminina. As mechas texturizadas e fixadas com laquê demoraram duas semanas para ficarem prontas.
Homens
Os desfiles da manhã, nesta quinta-feira (25), mostraram roupas masculinas feitas a partir de uma alfaiataria sofisticada e leve ao mesmo tempo, para aquel rapaz que gosta de se vestir bem, mas sem as amarras das roupas masculinas tradicionais.
Cristais
Igor Dardona apresentou a coleção Colosso com essa vibe, misturando as tradicionais roupas de trabalho, de escritório, com a roupas de festa. As camisas mais compridas atrás ou com mangas mais largas se misturavam calças de modelagem mais largas, a jaquetas e a casacos com flores ou com aplicações de cristais Svarowski, em tecidos que variavam da lã 100%, tweed a sedas puras. Quadriculados feitos à mão em preto e branco e broches de cristal em formato de miniflores faziam também jaquetas e casacos brilharem. Modelagem ampla e confortável, mas tudo com um minimalismo que beira a tendência do “quiet luxury”, aquele luxo que se vê nos detalhes.
Plantas
O estilista baiano Gefferson Vila Nova, estreante no SPFW, apresentou no Senac Lapa Fautolo, a coleção “Abstrato”, inspirada na obra do paisagista Roberto Burle Marx. “É uma coleção que fala sobre paixão, sobre um homem revolucionário”, disse o estilista. Na passarela, roupas masculinas com corte perfeito, mas com leveza, bem ao estilo streetwear feito na Bahia, relaxado e elegante.
A tradução disso veio em calças e bermudas mais largas, regatas soltas, tons claros, jeans. Destaque para as estampas únicas de folhagens pertencentes ao universo de Burle Marx em algumas pelas, como em camisetas.
Concurso de moda
Localiza, patrocinadora do SPFW, também mostrou o resultado do concurso Moda & Movimento, lançado em fevereiro, que teve como vencedora Bruna Cacique. Na passarela, antes de apresentar os novos uniformes, que vestirão os colaborades da empresa em 2024, houve uma retrospectiva, mostrando as roupas usadas pelos funcionários de 1980. Os novos uniformes vêm com tecidos tecnológicos, visando a praticidade. Uma das peças é um casaco, cuja aba frontal forma um L, de Localiza, como o desfilado por Thelminha.