Ronaldo Fraga leva a história da arte têxtil para passarela da SPFW

Por trás da trama de um tecido há um emaranhado de histórias. Com essa ideia em mente, o estilista Ronaldo Fraga ‘costurou’ o desfile que acaba de apresentar de forma virtual na São Paulo Fashion Week. Com o tema Entre Tramas & Beijos, a produção, ambientada em Guabiruba, cidade vizinha a Brusque, em Santa Catarina – um dos principais polos têxteis do país -, o mineiro usou do lúdico e produziu uma festa imaginária cujos participantes usavam peças composta em tecidos jacquard e mostravam a gastronomia e música que fazem parte da cultura local.

Ronaldo Fraga criou uma festa imaginária (Foto: Divulgação)
Ronaldo Fraga criou uma festa imaginária (Foto: Divulgação)

Segundo o estilista, a indústria têxtil é mais uma indústria geradora de produtos, emprego e renda. “Sua força se faz presente enquanto vetor de afirmação cultural vestindo a casa do corpo e o corpo da casa. E a importância do seu significado permeia muitas esferas – social, cultural, econômica e política de um país – a ponto de influenciar um estilo de vida de uma época, sendo capaz também de traduzir seus desejos de mudanças ou a permanência de suas tradições”, diz no texto de apresentação do vídeo.

Modelos usaram peças com tecido jacquard, inspirados na cultura catarinense (Fotos: Divulgação)
Modelos usaram peças com tecido jacquard, inspirados na cultura catarinense (Fotos: Divulgação)

O casting da produção foi formado por funcionários da RenauxView – empresa com a qual ele desenvolve tecidos exclusivos há mais de 15 anos -, com diferentes biótipos. Um deles foi Walter Orthmann, com  99 anos, considerado pelo Guinness Book ‘o colaborador com mais tempo de atuação em uma mesma empresa em todo o mundo’.

Fraga diz que resgatou desenhos florais criados há 100 anos, usados nas cortinas, produzidos na antiga fábrica Renaux. “São flores que um dia vestiram paredes e janelas do Brasil e agora vestirão diferentes corpos e histórias para uma grande festa que é a moda”. E completa: “É também o resgate da fantasia tão necessária nesses tempos cinzas e áridos. Foram desenvolvidos diferentes pesos e histórias de amor entre fios de algodão e fios de seda, linho e viscose. Reforço o papel da roupa e tecidos como manto de sustentação na construção de personagens diários e como molduras na parede da memória de cada um. A cultura de um lugar se manifesta na forma como as pessoas moram, comem, festejam e, principalmente, no que elas vestem. E a soma de tudo isso se chama vida.”

Abertura

O Projeto Cria Costura, formado por talentos em design de moda entre paulistanos da periferia, abriu o segundo dia de desfiles da São Paulo Fashion Week. Ao som de carrinhos ambulantes, um cortejo formado pelos participantes junto da embaixadora do projeto, Amanda Pieroni, percorreram o evento – alguns com bandeiras em punho – até chegar à sala de desfile. De criadores viraram modelos, que usaram a mesma peça de várias formas diferentes, mostrando que a moda hoje é diversa e democrática. 

Desfile Cria Costura (Foto: Agencia Fotosite)
Desfile Cria Costura (Foto: Agencia Fotosite)

Sob a batuta do estilista e consultor Jefferson de Assis, os participantes – o grupo é formado 90 % por mulheres – foram orientados para desenvolver habilidades de criação e design, e desafiadas a aplicar técnicas de costura no desenvolvimento de produtos de edição limitada. O programa teve início em julho com um laboratório de imersão criativa a partir da metodologia zero waste, método de modelagem consciente que os designers vêm utilizando para diminuir a quantidade de resíduo têxtil.

O primeiro piloto do programa selecionou mulheres em situação de vulnerabilidade, formadas em corte e costura e residentes de Cidade Tiradentes, um dos pólos vocacionais de moda em São Paulo, no coração da zona leste. O projeto é uma parceria do SPFW e do In Mod com a Prefeitura de São Paulo.

 

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