O quarto dia da 51ª edição do SPFW apostou em moda pensada para ficar em casa, mas que traz o desejo de sair. Por isso, o conforto se une à preocupação com tecidos naturais, aconchegantes trabalhados de forma precisa. O corte e o caimento são pontos que não foram deixados de lado pelas nove grifes que se apresentaram neste sábado (26).
A religiosidade também marcou presença, com grifes de estilistas negros exaltando suas raízes africanas, como Isaac Silva e TA Studio. A música como destaque guiou algumas das apresentações, como a da LED, de Celio Dias, que mostrou quatro miniclipes com cantores diferentes, todos em cenários que representavam ambientes de casa. A estreante no evento, Carol Bassi, trouxe a top Bárbara Fialho cantando uma música de sua autoria em passeio por praias e espaços do Rio de Janeiro.
Confira detalhes das coleções e assista as apresentações de cada marca
Rocio Canvas
A marca Rocio Canvas, do estilista Diego Malicheski, de Curitiba, fez sua estreia no SPFW mostrando uma coleção feminina com um pé na arquitetura e na alfaiataria, com looks atemporais, para uma mulher contemporânea e prática. As peças intercambiáveis vinham em tons como amarelo, rosa, verdinho, além de jeans, em cortes perfeitos.
Não faltaram blazers amplos, camisas, calças e vestidos, cuja inspiração é o deslocamento. “Não tinha como pensar em outra coisa do que em se deslocar em respirar”, disse o estilista após a apresentação. O nome da marca é uma homenagem à sua mãe, que se chama Maria do Rocio, e a palavra tela em inglês.
Confira a apresentação da Rocio Canvas aqui
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LED
A LED. de Celso Dias, apresentou o fashion filme “Desejo Coletivo”, dividido em miniclipes com novos cantores, filmados em ambientes caseiros. Davi Sabbag, Cibi Caetano, Alice Caymmi e Dani Vieira. O estilista, que sempre faz uma moda política, não deixou passar em branco o momento atual. “Quis mostrar esse desejo coletivo que todos estamos tendo agora, apesar do retrocesso e do desgoverno que dificulta a vontade de sair”, afirmou na entrevista após a apresentação.
Cada miniclipe mostrava o cantor ou cantora ao lado de amigos, com insinuação de relacionamentos e aglomeração, que não deixa de ser o desejo coletivo de todos que ainda estão em distanciamento social. Com seus crochês coloridos, sem gênero e atemporais, que se misturam a looks feitos em tecidos tingidos em tie-dye.
Estampas de roupas assinadas em parceria com João Vitor Lage, também subiam pelas paredes dos ambientes, estarão à venda para quem quiser levar alegria para casa. Os looks de crochê feitos com fios Pingouin também terão as receitas disponibilizadas. Uma moda acessível, diversa e com propósito, além de ser muito confortável, ideal para ficar em casa ou sair, após todos serem vacinados. No fim, um das frases emblemáticas de Celio Dias: “Abaixo o Macho Astral”, escrita numa bandeira mostrada por um modelo negro.
Assista a apresentação da LED
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Sankofa: TA Studio
A TA Estudio, de Gisele Caldas, participante do Projeto Sankofa, criado pelo movimento Pretos Na Moda, veio com sua coleção Adinkra, trazendo elementos da cultura Iorubá e seus arquétipos divinos. As cores terrosas, verdes, avermelhadas remetem a rituais de oferendas e confirma a importância da religião na criação da estilista. E camisaria é o fio condutor de todos os looks.
Gisele apostou na camisaria e em roupas confortáveis, como saias e calças. As estampas também vêm dos rituais Adinkra, como o Akoma Ntoaso (a cruz coração):b significa, tolerância, paciência e união. E o Bese Saka (a flor): poder, riqueza e abundância.
Assista a apresentação da TA Studio
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Sankofa: Silverio
A escuridão serviu de mote para a grife Silverio. Os looks pretos, em moda também sem gênero, vêm ora com apenas uma manga, ora com recortes inesperados, mas sempre mais justos. Na verdade, a ideia foi desmitificar o fato da escuridão ser uma coisa ruim.
“Essa matéria escura é tão benevolente que permite que se transforme tudo que desejarmos, pois nesse domínio é possível dar vozes aos desejos mais originais, reconectarmos com nossa intimidade, religiosidade e intuição”, afirmou o diretor criativo Rafael Silvério. Essa ideia errada de que o escuro é perverso, segundo ele, é a raiz do racismo. Rafael é um dos criadores do projeto Sankofa, pensado para valorizar estilistas negros.
Assista a apresentação da Silverio aqui
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Freiheit
A grife Freiheit, de Marcio Mota, com dois anos de vida, mostrou sua coleção filmada na Vila Itororó, em São Paulo, um local de 6 mil m2 entre os bairros Liberdade e Bela Vista, com um palacete e 20 casas que estão sendo restaurados pela prefeitura de São Paulo.
Cenário em ruínas perfeito para o universo punk rock que serviu de inspiração, ao lado do movimento russo chamado suprematismo, criado pelo pintor Kazimir Malevich (1878 – 1935), que tem como alvo usar formas geométricas básicas, como o círculo e o quadrado.
Daí as roupas retas, secas, com cortes exatos e minimalistas, mas de forma ampla. Essa rigidez nas formas se transformam em capas, bermudas, calças, moletons enormes e t-shirts. Uma marca masculina, mas possível de ser usada por mulheres, como provou Daiane Conterato, única mulher a desfilar nesse cenário apocalíptico.
As estampas em preto e branco foram criadas pelo artista Lucas Lander. Cores escuras são marcantes nas peças, que depois recebem tons alegres como o rosa. Tricôs e náilon também marcam presença na coleção.
Assista a apresentação da Freiheit aqui
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Neriage
Para falar de intimidade e liberdade, a estilista Rafaella Canielo, da Neriage, teve como inspiração principal a obra “Sentimental Journey”, do fotógrafo japonês Nobuyoshi Araki, em que retrata sua esposa deitada sobre um velho barco. Quatro modelos dentro de casa em preto e branco e depois em meio à natureza mostram a necessidade de estar livre.
Roupas delicadas em cores como amarelo, azul, verde e rosa clarinhos se permeavam com brancos e pretos. Destaque especial para os plissados poderosos em determinados looks, especialmente nas mangas, que quando abertas lembravam asas de borboletas. Os looks traziam um ar oriental e, como está sendo a tônica deste SPFW, muito conforto.
Confira a apresentação da Neriage aqui
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Misci
Airon Martins, da Misci, natural da cidade de Sinop, no Mato Grosso, apresentou sua coleção Boléia, lembrando sua infância passada no bar da família à beira de uma rodovia. O filme feito na lateral da Marginal Pinheiros, em São Paulo, sob a ponte Estaiada, cartão-postal da cidade, é emblemático, principalmente para quem vem de fora.
Formado em designer de mobiliário, o estilista da Misci, cujo nome vem de miscigenação, critica o fato de seda e algodão brasileiros serem exportados para grifes gringas e voltarem para cá com preços altos, e o design brasileiro não receber a mesma atenção. “Exportar o design é exportar toda a cadeia que faz parte desse processo”, afirmou Airon Martin.
Estampas, texturas, cores e dizeres inspirados nas famosas frases da cultura popular brasileira aparecem em jacquard feito com matéria prima nacional, como o algodão orgânico da paraíba.
Essa ideia de caminhão, segundo o estilista, é uma viagem à sua infância. Se antes o foco era mais no masculino, agora a marca veio com uma conexão mais forte com o feminino. O estilista colocou bolso em camisas e tops, um deles fazendo referência à memória de suas avós e mãe, que guardavam dinheiro no sutiã.
Confira a apresentação da Misci aqui
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Carol Bassi
A top Barbara Fialho foi a estrela do fashion filme da estreante Carol Bassi, marca que tem sete anos, exibindo vestidos monocromáticos com mangas amplas, bufantes e com babados, leves e confortáveis, em locais inesperados.
Barbara também cantou a música tema do vídeo, de sua autoria, chamada “Um Beijo”, enquanto passeava em praias e recantos do Rio de Janeiro, a inspiração da marca. Não é a primeira vez que Barbara canta em desfile. Ela já soltou a voz numa apresentação de Fabiana Milazzo, em 2019.
A coleção traz modelagens amplas, numa cartela de cores vibrantes, uma tendência em alta para o pós-pandemia proposto pelas grifes neste SPFW. Os comprimentos são variados do curto ao longo. A coleção foi desenvolvida em parceria com o stylist Marco Gurgel.
Assista a apresentação de Carol Bassi
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Isaac Silva
Uma ode aos povos antigos brasileiros e africanos marcou a apresentação de Isaac Silva, que trouxe inspirações afro-indígenas para sua coleção feita em parceria com as Havaianas, tanto que as estampas enfeitam tanto as roupas quanto os chinelos.
Elementos da religiosidade e espiritualidade se somam ao respeito pela natureza, sempre presente na cultura dos dois povos representados. O filme fez referências a rituais de purificação e proteção. A cabocla Jurema, entidade conhecida por expressar de forma popular a fusão de culturas que resultam do misticismo afro-indígena, também foi representada na vídeo.
Com casting de modelos negros e índios, incluindo o pataxó Noah Alef, a coleção traz cores como verde, amarelo, vermelho, além do branco e de preto, em peças que respeitam a silhueta de todos, não importa se gordo ou magro.
Isaac reinterpretou as capulanas africanas, tecidos estampados usados principalmente pelas mulheres de Moçambique, desenhos indígenas e demais elementos presentes nas religiões africanas para fazer sua coleção “Axé, Boca da Mata”.
Assista a apresentação de Isaac Silva
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