Se alguém tinha dúvida de que, após meses e meses fechados em casa, a necessidade de liberdade seria esquecida, se enganou. As grifes que se apresentaram neste terceiro dia do SPFW edição 51 confirmaram que conforto e cores estão entre as tendências da vez.
Gloria Coelho, que abriu o dia, deu o start mostrando looks em tons como verdes, laranja, azuis, ao lado de outros tons mais básicos. Isabela Fiorentino foi uma de suas modelos, mostrando cinco looks. Juliana Jabour apostou na monocromia em várias tonalidade, em peças bem volumosas. E até mesmo João Pimenta apresentou uma coleção em tons alegres, em sua moda sem gênero e poderosa.
O dia teve ainda a estreia da primeira marca de joias a se apresentar no evento. A Esfér trouxe elementos inspirados na esfera, mas com um ar minimalista e também sem gênero. No Projeto Sankofa, as grifes Santa Resistência e Mile Lab provaram suas raízes africanas.
Além das cores, o conforto é outra tendência que se intensificou com a pandemia e assimilada por todas as grifes, incluindo A.Niemeyer e Apto 03, com vestidos, macacões túnicas, saias e calças leves e nada justas.
Confira detalhes de cada apresentação e veja os vídeos.
Gloria Coelho
A estilista Gloria Coelho abriu o terceiro dia de apresentações da 51ª edição do SPFW, com um desfile que mistura várias décadas do século 20 para desembarcar em plena terceira década do século 21 com elegância e modernidade sempre atemporal. Não à toa, a coleção se chama “Mulher do Amanhã”.
Entre as modelos, Isabella Fiorentino voltou a desfilar com 5 looks, em meio aos corredores da casa de decoração Ornare, loja parceira de Gloria na apresentação e perfeita para emoldurar os looks de linhas arquitetônicas desconstruídas. Com peças mais encorpados ou mais soltas, a estilista transitou com vestidos amplos, com camadas, típicos das necessidades atuais, que pedem muito conforto.
Jardineiras em vestidos e macacões, camisas transformadas em vestidos curtos ou compridos, maxicoletes com calças justas ou mais largas vestiam as mulheres urbanas de Gloria.
Neste pós-pandemia, além do conforto, as cores mais quentes também surgem na cartela da marca, sem perder a suavidade. Magenta, vermelho, azul, verde, fúcsia, amarelo, laranja se misturavam aos eternos pretos, brancos, gelo e bege, sempre presentes na história de estilista. Estampas entram em patchworks de desenhos, como listras e flores, além da mistura de xadrezes tartã.
Destaque para os desenhos de plantas que dão proteção, como arruda, guiné, espada de são jorge, entre outras, comprovando o lado esotérico de Gloria. “Uma marca com 45 anos, tem que pensar na sustentabilidade. Tirei o plástico da minha empresa e tenho reaproveitado tecidos com estampas exclusivas que estavam guardados. Temos que deixar o planeta cada vez mais limpo”, afirmou Gloria, após a apresentação.
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Esfér
Este terceiro dia do SPFW teve a estreia da primeira apresentação joias do evento. A estreante Esfér mostrou uma performance que misturou robôs, números circenses e dança, com os artistas exibindo as joias sem gênero, cujas formas saem, claro, da esfera, uma referência ao nome da marca.
Aneis, brincos, colares, pulseiras e ear cuffs, desenvolvidos pela dupla João Viegas e Aldo Miranda. A forma esférica se fragmenta em aros, elos, cápsulas, engrenagens e origamis, que exploram a função das peças de maneira original. Tudo muito minimalista e delicado.
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Sankofa – Santa Resistência
A estilista Mônica Sampaio, formada em engenharia elétrica, criou a marca Santa Resistência (o nome deve ter a ver com a profissão), em 2015. Dentro do Projeto Sankofa, que traz estilistas negros ao evento, homenageou a princesa Elisabeth de Toros, da Uganda, uma mulher à frente de seu tempo. Nascida em 1936, foi advogada, modelo, embaixadora na ONU.
Cores como azul, amarelo, vermelho, preto e branco, em linhas retas, com babados, e também com estampas de animal print marcaram os looks. Acessórios dourados, incluindo enfeites de cabeça, referendavam essa “princesa negra”. “Vestir Santa Resistência é, com certeza, ocupar, espelhar e se posicionar. A África é nossa maior fonte de inspiração”, diz o material de divulgação. E isso pode ser visto em cada detalhe das roupas apresentadas.
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Sankofa – Mile Lab
Dentro do projeto Sankofa, criado pelo movimento Pretos na Moda, também se apresentou a Mile Lab. A marca vem de uma ideia de fazer uma moda marginal da estilista Milena Lima, que já foi camareira no SPFW e estreou agora mostrando roupas feitas a partir de uma cortina deixada pela sua avó.
“Minhas peças falam do axé de cada pessoa que faz e que veste a roupa”, afirmou a criadora. Inspirada no candomblé, as peças vinham em grandes volumes, com renda e babados. Também sem gênero e evocando a ancestralidade africana dos negros.
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Juliana Jabour
A estilista Juliana Jabour mostrou um curta-metragem chamado “Expectations”, em que mostra modelos acordando após dormirem por vários meses. Neste despertar, usam roupas enormes, volumosas, com zibeline misturado com moletom, tecido sempre presente na história da marca.
“Depois de tanto ficar presa em casa, eu tenho vontade de me montar toda para fazer as coisas mais ordinárias, como ir à farmácia ou tomar um café na padaria. É essa vontade que eu coloquei na coleção”, confessou Juliana Jabour, que fez 11 looks extremamente volumosos, alguns com quase 30 metros de tecido, com babados em caracol e godês.
As peças vinham amplas principalmente na parte de cima, com mangas enormes, algumas misturadas com o moletom, incluindo capuz em alguns. Juliana já trabalhou com volumes, mas dessa vez exagerou de propósito. E também, nesse sonho de despertar num realidade fora da pandemia, muita cor pontuou a coleção. Todas as peças eram monocromáticas, apenas uma bicolor. Tendência absoluta neste momento. Tudo com aquele perfume streetwear. No material de divulgação, a marca lembra que o desdobramento comercial estará à venda a partir de julho.
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A.Niemeyer
A grife A.Niemeyer quis se reconectar com a natureza da qual, segundo as criadoras Renata Alhadeff e Fernanda Niemeyer, há tempos nos distanciamos. Para isso, os tons terrosos, partindo dos amarronzados mais escuros até o bege, chegando ao branco.
Vestidos longos, saias mais amplas, macacões, camisa branca fizeram parte da coleção confortável e aconchegante, que também trazia elementos em crochê, como em bolsas usadas na transversal. Listras, flores e outras estampas botânicas enfeitavam a peças da coleção, que trazia outras lisas. Pode apostar nessa vontade de reconexão com a natureza, as marcas investem nela que, neste momento, é cada vez mais necessária.
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Apartamento 03
“A Roupa na Janela” é o tema da coleção do estilista Luiz Cláudio Silva, da marca Apartamento 03, apresentada nesta edição 51 do SPFW. O fashion filme começou com looks vermelhos, cor que está se impondo como uma das tendências.
O mineiro misturou sua expertise em peças trabalhadas com aplicações de tecidos e bordados como em túnicas e vestidos, ao lado da alfaiataria bem feita em blazer e bermuda, conjunto que promete manter-se entre as tendências.
Não faltaram vestidos longos mais amplos, macacões e estampas botânicas, em looks bicolores azuis e bege. Sobreposições alongadas em tiras deixavam os looks ainda mais movimentados e soltos.
“A coleção foi feita no momento em que eu apresentava o vídeo ‘Breu’, do último SPFW. Naquele momento, tudo estava fechado e o único lugar para ver a cidade era a janela. Daí o nome”, disse o estilista, que trabalhou com muitos babados aplicados de forma 3D, criando volumes suaves nas peças e brincando com as texturas dos looks.
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João Pimenta
Após a apresentação sufocante no último SPFW, em que falava de respiração e retratava o momento de surpresa da pandemia com modelos totalmente cobertos, o estilista João Pimenta deu um alivio e trouxe uma coleção mais livre, mais alegre e colorida. As peças estruturadas que sempre acompanharam o estilista, vinham com estampas com cores misturadas, listras e flores.
“Depois de tanto baixo-astral por conta da pandemia, vim com esse olhar escapista, saindo de um lugar triste para trazer alegria ao cliente”, contou o estilista, um dos primeiros a fazer roupas sem gênero. “Demorou bastante para eu entender essa história. Comecei usando modelagem feminina na roupa masculina. Hoje, quem compra a roupa define o gênero. Essa percepção me libertou no processo de criação”, contou após a apresentação.
Para a coleção, João Pimenta manteve o pé na sustentabilidade, usando tecidos que já tinha e mostruários de lojas, para montar patchwork em looks com sobreposições, incluindo até jaquetas e casacos de náilon fofinhos (tipo doudoune) estruturados com corselet na cintura. O estilista trabalhou também com mangas franzidas e calças amplas, criando imagens poderosas.
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Neith Nyer
O estilista Francisco Terra estreou no SPFW com a grife Neith Nyer, que passará a se chamar Rolê, mostrando um desfile apresentado em Paris, onde também fez sua estreia. Trouxe peças inspiradas no “Show da Xuxa”, trabalhando também com tecidos reciclados.
Ao contrário do que poderia se esperar, a apresentação veio com uma trilha mais triste do que as músicas cantadas por Xuxa, causando certa estranheza. Começou com peças pretas, em tecidos que lembram vinil, sobrepostos a malhas.
Depois as peças foram ganhando cores, chegando a reproduzir as listras do arco-íris. Os jeans em lavagens de tie-dye são originais dos anos 1980, comprados de uma empresa americana. E, claro, no styling não faltaram as botas de cano alto, incluindo brancas, peça ícone de Xuxa.
Confira a apresentação aqui
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