O reality show “Beleza GG”, do Canal E! Entertainment, está em sua terceira temporada, que termina na próxima quinta-feira (21). Na nova fase, o programa tem mostrado a evolução das carreiras de Fluvia Lacerda, Mayara Russi, Nahuane Drumond e Elisa Fava, e acompanha também novas modelos da Ford que estão em busca de um espaço no mundo da moda curve e plus size. Entre elas, o destaque é a argentina Mica D Fuego.
O “Elas no Tapete Vermelho” conversou com a modelo Mica D Fuego, que completa 24 anos neste 15 de dezembro, para falar sobre as diferenças de mercado entre da Argentina e do Brasil para modelos plus size, sobre moda para pessoas gordas e como se amar, independentemente do corpo que tem. “A Argentina é um país muito gordofóbico – ou foi gordofóbico durante muitos anos. Há pouco tempo isso começou a mudar, e as modelos plus size e mulheres gordas passaram a ter espaço em revistas e na mídia”, disse.
Mica também é atriz e começou sua carreira no audiovisual, no Disney Channel. “Fui a primeira personagem gorda da Disney na América Latina. Isso foi em 2018. Percebo como, de fato, hoje em dia o espaço para mulheres fora do padrão aumentou”, contou a nova participante do “Beleza GG”, pioneiro em mostrar esse mercado da moda plus size e em trazer para debate a questão da gordofobia. “Essa série, além de ser um grande sucesso, rompe com esses padrões de beleza excludentes que dominam a mídia e traz representatividade, algo essencial para uma sociedade mais inclusiva e menos preconceituosa”, disse Marcello Coltro, VP Sênior da NBCUniversal na América Latina, na estreia da terceira temporada.
Confira a entrevista com Mica D Fuego.
Elas no Tapete Vermelho – Você se mudou para o Brasil em busca de um mercado mais aquecido. Como é o mercado para modelos plus size/curve na Argentina? Na sua opinião, por que os dois países são diferentes neste aspecto?
Mica D Fuego – O mercado para modelos plus size na Argentina é muito pequeno em comparação ao Brasil, já que não existem marcas grandes como aqui. São todos empreendimentos que, à medida que forem passando os anos, vão crescer, mas ainda assim somos umas 10 ou 15 modelos que trabalham lá na Argentina e todas tentam buscar oportunidades em outros países. Na minha opinião, os dois países são bem diferentes neste aspecto. Primeiro, porque a Argentina é um país muito gordofóbico – ou foi gordofóbico durante muitos anos. Há pouco tempo isso começou a mudar, e as modelos plus size e mulheres gordas passaram a ter espaço em revistas e na mídia. Aos poucos, esse mercado vai se ampliando. Mas, como modelo, posso dizer que as produções que faço lá são muito pequenas em comparação às oportunidades que consigo aqui no Brasil.
Elas no Tapete Vermelho – Você também é atriz. Você sente que há boas oportunidades para mulheres fora do padrão no audiovisual hoje em dia. Neste sentido, há diferença entre Brasil e Argentina?
Mica D Fuego – Sim, sou atriz e comecei minha carreira no audiovisual, no Disney Channel. Fiz a primeira personagem gorda da Disney na América Latina. Isso foi em 2018. Percebo como, de fato, hoje em dia o espaço para mulheres fora do padrão aumentou. Sinto que nos últimos tempos se celebra mais as diferenças e a diversidade. Mas também sinto que, de alguma forma, seguem encaixando essas mulheres fora do padrão em certos tipos de personagens – engraçados, ou meio caricatos, mas nunca a protagonista. Mas, sim, devo admitir que há mais espaço do que quando eu era adolescente e não tinha nenhuma referência. Hoje em dia, consigo me ver representada nos meios de comunicação. Não como eu gostaria, mas sinto que estamos avançando. E eu sinto isso mais evidente aqui no Brasil do que na Argentina. Talvez, o fato de o Brasil ser maior, ter muito mais habitantes, faz avançar mais rápido, pois há muito mais mercado. Sinto que a diferença também vai por esse lado, na Argentina as coisas acontecem um pouco mais devagar.
Elas no Tapete Vermelho – Quais as maiores dúvidas que as mulheres plus size têm ao se vestir?
Mica D Fuego – Não sei se existem dúvidas em comum. Acho que cada mulher é um mundo, cada mulher tem uma forma diferente e uma personalidade diferente, então não gosto de pôr todas as mulheres plus size na mesma sacola. Acho que a mulher gorda faz a constante prática de ter coragem e isso é muito interessante na moda pois, no meu caso, eu sinto algo muito curativo. Por meio da moda, eu reúno coragem para mostrar minhas curvas, para usar cores e realçar minha personalidade. Não sei se as mulheres plus size têm dúvidas sobre qual roupa vestir, qual fica bem para o seu corpo, mas antes de tudo isso vem a autoestima, que parte de um lugar próprio. Então, a moda e a roupa podem te ajudar a realçar a sua beleza.
Elas no Tapete Vermelho – Quais as maiores mentiras que as GGs estão acostumadas a ouvir na hora de se vestir?
Mica D Fuego – Não sei se mentiras, mas mitos. Existem muitos mitos sobre o corpo gordo, como “use saia mais comprida, para tapar os joelhos”, “não use listras horizontais, pois engorda”, “use preto, para disfarçar” e até mesmo “não use branco, pois engorda”. Tem muita coisa que não é certa, é mito. E acho que a moda ajuda a quebrar tudo isso e o fato de ter modelos plus size, para que as mulheres vejam como nossos corpos podem ficar lindos com peças ajustadas, com cores, realçando nossas curvas, aumenta nossa inspiração como mulheres.
Elas no Tapete Vermelho – O que falta à indústria da moda para atender às necessidades das mulheres plus size?
Mica D Fuego – Vejo que, em comparação com a Argentina, tem muito mais variedade e marcas que vestem do tamanho 50 para cima, mas acho que falta um pouco mais de variedade e ousadia. São poucas as marcas que ousam neste sentido, com peças mais sexy, com decote, por exemplo. É tudo muito igual. No meu caso, por exemplo, quando tenho algum evento de gala, um tapete vermelho, encontro poucos estilistas que têm o tamanho 46 para mim. Dependendo do vestido, não têm disponível.
Elas no Tapete Vermelho – Houve uma evolução, mas ainda falta muito. Na sua opinião, como a sociedade pode ajudar a mulher GG a se aceitar, sem dar ouvidos a preconceitos?
Mica D Fuego – Sim, ainda há muito preconceito. Acho que ter mulheres gordas no mercado de entretenimento ajuda muito. Nas redes sociais, há muitas mulheres que vão criando redes de apoio, umas com as outras. Eu me inspiro por muitas modelos plus size que mostram seus corpos. Nos dias em que me sinto triste ou com baixa autoestima, por exemplo, eu assisto aos vídeos dessas mulheres e me vejo refletida nelas – isso me dá muita força. Obviamente, os preconceitos existem, existe uma parcela que só expressa ódio e não somente em relação aos corpos gordos, mas a tudo. Não tenho como mudar a cabeça de todos, mas posso alçar minha voz mais forte e ter orgulho de quem eu sou.
Elas no Tapete Vermelho – Quais os erros mais frequentes das mulheres plus size ao se vestir?
Mica D Fuego – Acho que não há erros para se vestir. Se você gosta do que está vestindo, então está tudo bem. Não sou ninguém para dizer se alguém está bem ou mal vestido.
Elas no Tapete Vermelho – Qual a peça de roupa mais difícil para uma mulher GG encontrar no mercado?
Mica D Fuego – Para mim, por exemplo, que tenho bastante busto, é encontrar um bom sutiã tomara-que-caia. Até hoje não encontrei um sutiã tomara-que-caia que realmente não caia. Fisicamente também é difícil, pois não é fácil encontrar peças com boa sustentação. Jeans também pode ser muito difícil. Pelo menos no meu caso, na Argentina, nunca encontrei um jeans que ficasse bem. A primeira calça jeans que usei comprei aos 21 anos, quando fui morar no México – foi a primeira que entrou e ficou bem em mim.
Elas no Tapete Vermelho – Há alguma coisa proibida para a mulher GG?
Mica D Fuego – Nada está proibido para a mulher GG! Mas ouvi muitas frases ao longo da minha vida, nesse sentido. Nos proibiram de muitas coisas, como mulheres gordas, sobretudo para que a gente não se sinta sexy com nossos corpos. “Não use isso, pois marca suas gordurinhas “ou “essa peça mostra suas celulites” e ainda “só temos tamanho único”. Mas hoje em dia nada é proibido.
Elas no Tapete Vermelho – Fala-se muito da mulher, mas os homens plus size também têm dificuldades? Quais as maiores dificuldades deles e como driblar isso?
Mica D Fuego – Exatamente, fala-se muito das mulheres plus size e eu conheço pouquíssimos homens definidos dessa forma. É um assunto que ainda precisa de um pouco mais de luz. Não quero opinar, pois realmente não conheço o assunto. Mas, por exemplo, meu irmão é um homem gordo, na Argentina, e todas as roupas que ele compra são de fora do país, porque lá ele não tem como se vestir. Obviamente, tem algumas coisas, mas se você quiser algo mais diferenciado ou um pouco mais ousado e jovial, é difícil achar na Argentina.
Elas no Tapete Vermelho – Dê dicas que você acha importante para as pessoas plus size, seja de moda ou de vida.
Mica D Fuego – Acho que o caminho com nosso corpo é eterno. E eu estaria mentindo se te dissesse que acordo todos os dias com uma confiança absoluta em mim. Mas tenho certeza de que meu corpo é magia pura. Sou uma mulher superpoderosa pelo simples fato de existir. Tem uma frase que gosto muito: “Nosso corpo físico é o veículo que leva nossa alma ao seu caminho de evolução.” Então, esse corpo é o nosso carro, o encarregado de levar nossa alma a todas essas vivências nesse caminho que é a vida. É muito importante honrá-lo e dizer coisas lindas sobre ele, dos pés à cabeça. Acho importante o exercício que eu faço de me olhar no espelho e dizer “eu sou suficiente”, por mais que o mundo inteiro tenha dito o contrário durante muito tempo, que eu estava errada, que não merecia me vestir como eu queria ou que não era para eu me sentir linda como sou. Hoje, quando me olho no espelho e digo que sou suficiente, eu realmente acredito nisso. E é verdade.