A beauty stylist Maxi Weber exibe todo seu talento nesta quarta-feira (24) assinando a beleza do desfile de Isa Isaac Silva, que tem como tema “Banho de Axé”, que acontece na Ocupação 9 de Julho, prédio no Centro de São Paulo, ocupado pelo MSTC – Movimento dos Sem Teto do Centro. Mas Maxi era Max Weber até recentemente, ou pelo menos era esse o nome que todos a chamavam, ainda usando o pronome masculino.
De um tempo para cá, tem reafirmado sua transição para o sexo feminino nas redes sociais, mostrando fotos e se posicionando com o nome de Maxi. Coincidência ou não, o desfile é de Isa, que também se chamava Isaac, e que assumiu sua transição para se assumir mulher. Sua marca ainda é a Isaac Silva.
Pode parecer uma decisão fácil e tranquila, mas não é. Nunca é. Em entrevista exclusiva ao “Elas no Tapete Vermelho”, Maxi revela que assumir sua mudança para o sexo feminino nunca foi simples. Tanto que é a segunda vez que passa por transição. Na primeira, dos 16 para os 17 anos, teve que voltar atrás por conta da não aceitação, inclusive de sua família. Confira trechos do relato de Maxi, uma das mais conceituadas maquiadoras e cabeleireiras que atuam nos desfiles nacionais há décadas.
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Elas no Tapete Vermelho – Por que você resolveu passar pela transição agora?
Maxi Weber – Porque hoje sou independente. Na verdade, já faz um tempo que sou independente, mas agora tenho mais tempo para eu mesma. Eu já tinha feito a transição muito nova, porém precisei retransicionar por conta da minha família. Eles não aceitavam e procurei seguir os conselhos da minha mãe, analisar e receber ajuda da minha família, para me reestruturar e me profissionalizar. Me formei em cabeleireira, porque maquiadora sou autodidata.
Elas no Tapete Vermelho – A pandemia te levou a refletir mais sobre o assunto?
Maxi Weber – Sim, com a correria e a gana de conseguir ser a primeira ou uma das primeiras maquiadoras e cabeleireiras do Brasil, abandonei essas questões pessoais pelo fashion, pela moda. Isso porque tive que me entregar de corpo e alma ao trabalho sendo negra, periférica e travesti. Foquei tanto no traballho e acabei fugindo das dores e dos outros amores, para servir à classe da beleza.
Elas no Tapete Vermelho – Como está sendo o processo atual? O que tem feito? Pensa em cirurgia ou implante?
Maxi Weber – Estou apenas tomando hormônios e indo com calma, transicionando e vivendo normalmente. Ainda não penso nas plásticas, porque agora que vou completar 50, em julho, tenho ficado mais calma e me entendendo melhor, sendo como a água, sentindo a fluidez dos acontecimentos.
Elas no Tapete Vermelho – Quando você fez a primeira vez transição, quantos anos tinha e o que te levou a tomar a decisão?
Maxi Weber – Eu tinha 16 pra 17 e tomei a decisão trocando ideias com as outras gays e travestis. Na época, o único caminho para nós, femininas, era sair do país. O sonho de morar fora, coisa e tal. Mas retransicionando conquistei o que achava que só ia conseguir sendo puta. Eu não precisei e muitas não precisam. Hoje a realidade ainda continua sendo dura para a classe, mas estamos avançando com a ajuda do poder LGBTQIA+ e transexuais ativos, mostrando que temos capacidade e estamos para vencer qualquer tipo de preconceito.
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Elas no Tapete Vermelho – Por que você tomou decisão de retransicionar?
Maxi Weber – Como disse, não houve aceitação da minha família. Sempre fui a preferida de minha mãe, que me protegia de todas as formas, até a hora que ela teve que colocar a nossa relação em jogo. Daí então eu repensei. Eu não queria a vida de rua, de prostituição, de marginalidade. Voltei atrás, mesmo com raiva, mas na época eu dependia da minha família para tudo.
Elas no Tapete Vermelho – Quanto tempo depois de fazer a primeira transição, você retransicionou?
Maxi Weber – Tomei hormônios até uns 20 anos, não fiz cirurgia alguma. O corpo mudou, a voz mudou, comecei a ter peitinhos. Então voltei a estudar e me tornei cabeleireira como profissão. Comecei a trabalhar em casa. Montei meu espaço de trabalho no meu quarto. Eu já era boa na época, comecei a deslanchar e a fazer dinheiro. Conheci uma turma de cabeleireiros e comecei a viajar. Guardei meu sonho de transição e comecei a trabalhar colocando a minha feminilidade nos meus trabalhos e criações. Viajei o Brasil inteiro com estes profissionais. Depois fiz minha primeira viagem internacional para Buenos Aires, depois Chile. Fui a Montpellier e Paris, na França. Tudo com meu trabalho, comprando coisas com meu dinheiro, que ganhava no meu salãozinho na Cohab 2, em Itaquera, São Paulo, com o apoio minha amada mãe, Maria.
Elas no Tapete Vermelho – Você acha que a sociedade atual está mais aberta para aceitar pessoas trans?
Maxi Weber – A luta ainda é bem grande. O preconceito existe, mas temos que vencer o nosso próprio “pré conceito” e nosso próprio preconceito. Dessa maneira, fica mais fácil encarar a não aceitação. Não é fácil, mas temos o poder de mudar as nossas vidas e automaticamente abrir caminho para a nova sociedade. Não dá pra voltar ao passado. O futuro é agora.
Elas no Tapete Vermelho – O que você pode falar às pessoas que ainda têm medo de fazer a transição?
Maxi Weber – Deseje, sonhe, ache o seu superpoder. Ele e só seu. Planeje e vá em frente, um passo de cada vez. Eu estou dando os meus passos agora. A vida é cheia de escolhas, faça a escolha certa e sinta o seu coração.
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Elas no Tapete Vermelho – Como sua família reagiu agora à sua decisão?
Maxi Weber – Antes eram superprotetores. Hoje, estou caminhando com eles no amor. Só o amor salva, assim como a paciência e a troca de ideias. Precisamos conversar, sermos honestas e abrirmos o nosso coração, para que o outro também possa abrir o dele.
Elas no Tapete Vermelho – Você acha que na sua profissão a aceitação é maior ou ainda há preconceito mesmo no mundo da moda e da beleza?
Maxi Weber – O preconceito existe em todas as profissões. Precisamos ser o melhor que pudermos ser. A rejeição e o preconceito estão na falta de informação, na inveja, mas aí, não é problema nosso. Honestidade e desonestidade, caráter e falta de caráter estão em todas as profissões.
Elas no Tapete Vermelho – E, para finalizar, como você está se sentindo agora?
Maxi Weber – Linda, leve e solta, mais gostosa. Lógico que ainda tenho muito a percorrer, mas agora larguei o peso que me empurrava para baixo. Somos livres. E sendo tão modernos, tão cool, tão pra frente, não podemos ser nós mesmas?
Em junho de 2021, Maxi fez um vídeo exclusivo ao Elas no Tapete Vernelho, ensinando uma maquiagem para a Parada LGBTQIA+. Veja abaixo.