Talvez dizer ‘ícone fashion’ seja restringir demais a imagem de Rita Lee, que faleceu na noite desta segunda-feira (8), aos 75 anos, em seu sítio em São Paulo. Ela sempre foi um ícone pop completo, pelo menos para nós, brasileiros, crescidos e vividos durante o período pesado da ditadura, durante a qual a cantora foi até presa.
Mas a morte de nossa Rainha do Rock nos faz reviver e lembrar não só de suas músicas, mas também dos figurinos, que usou em seus shows e nas capas de seus discos, numa época em que nem sempre a moda estava diretamente relacionada com o trabalho musical, como é hoje. Debochados, trangressores, visionários e constestadores são apenas alguns adjetivos que podem ser dados a seus looks.
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Seu estilo próprio, criado de forma intuitiva, marcou sua imagem. Afinal, os cabelos vermelhos, abandonados há não muito tempo, e os óculos redondos, são a primeira imagem que vem à cabeça ao se falar o nome de Rita Lee.
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Tive a honra e a oportunidade de ver alguns de seus shows, de encontrar com a cantora em 2019, em evento beneficente em prol dos animais, em sua homenagem, na qual ela já de cabelos grisalhos estava presente. No evento, promovido por Amir Slama, não cantou, mas Anitta entoou em versão acústica algumas de suas músicas. E Rita acompanhou da plateia, ao lado do marido Roberto de Carvalho, a carioca cantar. “Mestre”, escreveiu Anitta no Instagram.
A relação de Rita Lee com a moda ficou explícita na exposição Samsung Rock Exhibition Rita Lee, no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, em 2022, em que vários de seus figurinos estavam presentes e mostravam a irreverência da cantora e como ela estava à frente de seu tempo.
Crimes fashion
Suas travessuras fashion estavam lá relatadas, assim como em seu livro “Rita Lee: Uma Autobiografia”, no qual conta sem censura episódios de sua vida, incluindo alguns “crimes fashion” que cometeu.
Em Londres, na badalada loja Biba, ícone dos anos 1960 e 1970, resolveu provar uma bota prateada e, enquanto a vendedora buscava outro número, saiu da butique com as botas sem pagar. Sim, confessa que roubou e, ainda por cima, posou com o objeto para a capa de do álbum com a banda “Tutti Frutti”, após sair do grupo Mutantes.
Aliás, na capa do disco “Mutantes”, em 1969, outra prova de crime fashion. Rita estava com vestido de noiva usado por sua amiga Leila Diniz, na novela “O Sheik de Agadir”. Por quê? Porque a atriz deu para a Rita Lee e ela nunca mais devolveu para os acervos da Rede Globo. O vestido estava lá na exposição.
Depois que foi presa e liberada, em 1976, a cantora fez um show em São Paulo, com macacão listrado em preto e branco, provando que o figurino tem muito o que falar. Ela havia sido presa sob alegação de usar drogas ilícitas em suas apresentações. Mas como estrava grávida, tinha deixado as drogas de lado durante aquele período.
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Rita Lee já usou roupas de plástico, de bruxa e um icônico macacão feito de rede tipo arrastão com estrelas aplicadas, uma das peças mais copiadas por integrantes do bloco de Carnaval RitaLeena e que estava na entrada da exposição no MIS.
E não dá para não falar do macacão branco drapeado usado pela artista na capa do álbum Lança Perfume, de 1980, assinado pela estilista norte-americana Norma Kamali. Rita Lee repetiu o look no especial Grande Nomes: Rita Lee Jones, na TV Globo. E Elis Regina gostou tanto da peça que adiquiriu um para ela também.
Sim, Rita Lee deixa um legado de transgressão, seja por comandar, como mulher, uma banda de rock, ainda que ela não cantava só esse gênero musical; de não ter papas na língua, como ao falar dos rodeios e do sofrimento dos animais, e sobre seu vício em drogas e bebidas. E deixa também um legado fashion, já que mostrou como poucas de sua época que um figurino tem muito o que dizer. Sim, Rita Lee, agora vai faltar você.