O Dia dos Povos Indígenas é lembrado neste 19 de abril. E, apesar das tragédias noticiadas nos últimos meses, por conta do descaso com comunidades como os yanomanis, entre outros pontos, há também o que se comemorar. E um dos motivos é o fato de que alguns representantes de várias etnias têm representando muito bem seus povos nas passarelas e nas campanhas de publicidade no Brasil e até mundo afora.
Não se imaginava anos atrás um modelo indígena ser recordista de desfiles no SPFW, por exemplo. Pois bem, isso é realidade, tanto que Dandara Queiroz e Noah Alef foram os que mais desfilaram em julho e em novembro de 2022. E divulgar as causas indígenas é uma das missões que esses profissionais do segmento de moda e beleza têm em mente. E muitos vão além.
Dandara, por exemplo, já estreou como atriz na Globo em episódio sobre indígenas. Noah, que fez participação em “Verdades Secretas 2” já participou de protestos contra o Marco Temporal, demarcação de terras dos povos origináros. Conheça 7 modelos que vem se destacando e levam ou vão levar suas vozes e sua histórias além de nossas fronteiras.
Emilly Nunes
De ascendência indígena da etnia Aruans, a modelo Emilly Nunes, da WAY Model, chegou a trabalhar como operadora de caixa, em um supermercado do Pará, e como vendedora de uma empresa de telefonia, ofertando chips para celulares nas ruas, até despontar como um dos nomes do momento na moda.
Aos 24 anos, a bela de traços marcantes já estrelou capas das Vogue Brasil e Portugal, publicidades de prestigiadas grifes como Lenny Niemeyer, e foi destaque na São Paulo Fashion Week, onde figurou entre as recordistas. Na última edição, em novembro de 2022, fez 17 desfiles, quatro a menos que a recordista feminina, Ana Portela.
Criada entre Belém e a paradisíaca Ilha de Marajó, Emilly acompanhava desde criança os desfiles de moda, quando calçava o salto-alto da mãe e desfilava pelos cômodos da casa onde vivia com a família. Em fevereiro, estreou nas passarelas internacionais em Milão, para a grife Diesel. Eu sonhava trabalhar como modelo, mas não via minha beleza ocupando esses lugares, então achei que nunca poderia estar aqui. É muito importante que tenhamos corpos indígenas ocupando todos os espaços. Estar aqui representando o meu povo é muito importante para termos mais visibilidade e para que mais indígenas ocupem os espaços que quiserem”, disse a modelo na ocasião.
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Sim, a neotop, agenciada pela Way Model, usa a carreira para trazer representatividade aos povos originários. No último fim de semana, foi anunciada como embaixadora do festival de valorização da cultura indígena “Jaraguá é Guarani”. “É uma oportunidade muito especial para darmos visibilidade e valorizar a cultura e o povo indígena, além de pleitear direitos e estrutura. A luta dos povos originários é antiga e é importante termos todo apoio a esta causa, para que todos os indígenas possam viver com dignidade”, afirmou.
Noah Alef
Noah Alef é outra aposta da moda brasileira: o jovem de ascendência Pataxó e Kariri-Sapuyá estreou recentemente na moda internacional e vem usando a profissão para conquistar representatividade. Natural de Jequié, no interior da Bahia, o modelo de 23 anos já conquistou contrato com empresas do Reino Unido, Itália, Espanha e Alemanha.
Antes da carreira fashion, Noah trabalhava como empacotador e fazia bicos como ajudante de pintor: “Foram trabalhos que me ajudaram a evoluir e que me permitiram valorizar ainda mais tudo o que tenho conquistado”, afirmou.
Noah foi recordista masculino da São Paulo Fashion Week, em novembro de 2022, quando computou 15 desfiles, para grifes como ÁLG, Isaac Silva, Handred, Misci, João Pimenta e Ponto Firme, estrelou campanhas de moda, editoriais para publicações como GQ Portugal, além de ter feito uma participação desfilando no folhetim “Verdades Secretas 2”.
Representado pela WAY Model, coleciona ainda trabalhos para grifes poderosas mundo afora, já desfilando também para grifes como Dsquared2 e Emporio Armani. Fico muito feliz também em ser uma representatividade para nós povos indígenas, espero que através de mim outros possam vir, INDÍGENA NA MODA, INDÍGENA NO TOPO”, escreveu em seu Instagram.
Luanna Pinheiro
Luanna Pinheiro é outro nome indígena que vem se consagrando: a modelo é uma das apostas da Mix Models e já estampou editoriais em algumas das mais prestigiadas publicações do segmento, como i-D Magazine e Marie Claire USA, entre diversas outras, além de ter estrelado campanhas para gigantes como Natura, Jack Daniel’s, Mara Hoffman e Accessorize.
Nascida e criada no centro do Rio de Janeiro, a modelo de 31 anos ingressou na moda após ser revelada pela atriz Luana Piovani. “Eu trabalhava em um salão de beleza, como assistente de maquiadora. Ela me abordou e me incentivou a tentar. Foi ela quem pegou o telefone e ligou para profissionais da área”, relembra a xará da atriz, que tem despontado na moda internacional, com trabalhos em disputados mercados como Nova York e Londres. A ex-maquiadora, cuja mãe é descente de indígenas do Maranhão, já participou até de campanhas para a marca Skims, de Kim Kardashian, que aposta em peças íntimas para todos os corpos e cor de pele.
“Foi um dos trabalhos mais importantes que já fiz, com o time mais inclusivo que já trabalhei. A equipe estava muito preocupada em fazer com que todas as modelos ficassem confortáveis nas peças que estávamos fotografando e isso me surpreendeu positivamente. O padrão de corpos inalcançáveis está acabando e foi importante ver isso”, afirmou a brasileira após estrear para a grife.
Messias Magno
Messias Magno estreia na moda: revelado em 2022, o jovem de 18 anos é uma das apostas da Joy Management. Nascido em Belém e morando atualmente em Campinas, o paraense, descendente do povo marajoara, chegou a concluir o curso de Auxiliar Administrativo, que fazia em paralelo às aulas de canto e saxofone.
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Antes de despontar como aposta das passarelas, o modelo trabalhou como lojista e entregador. Nas horas vagas, dividia-se entre a confeitaria e os jogos de vôlei.
“O Marajó é um lugar que precisa de mais oportunidades. Busco passar para as pessoas que podemos sim crescer na vida”, afirma.
Karen Brasil
Outra modelo de origem indígena que é destaque na moda nacional é Karen Brasil, representada pela Way Model. De Manaus, a jovem de 18 anos estreou na moda em 2021 – e logo foi escalada para estrear desfilando na São Paulo Fashion Week. Recentemente, estrelou capa digital da Vogue Brasil.
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“Quando eu era mais nova, nunca tinha visto modelos indígenas ou descendentes. Fico feliz que nossa beleza esteja sendo valorizada!”, afirma.
Dandara Queiroz
Dandara Queiroz é mais um nome que desponta: a bela representada pela WAY Model foi a recordista de desfiles da São Paulo Fashion Week, em julho de 2022.
Descendente da etnia tupi-guarani, a bela de 24 anos nasceu em Araçatuba (SP) e foi criada em Três Lagoas (MS). Modelo há dois anos, já atuou na Alemanha e trabalhou para marcas como Animale, Havaianas, Aeropostale, Água de Coco, Cia Marítima e Lenny Niemeyer, além de editoriais para Vogue, Elle e L’Officiel.
Formada em Arquitetura e Urbanismo, também dedica-se à realização de pinturas indígenas, poemas e composições, além da prática de Muay Thai. Dandara também realiza ações em prol de animais abandonados e da preservação do meio-ambiente. Foi ela que protagonizou uma das cenas mais icônicas da edição em que foi recordista. Ao desfilar para a grife Santa Resitência, com um look verde e cocar feitos artesanalmente, deu um grito ancestral na passarela, paralisando todos na sala.
Nesta semana, a jovem foi destaque nacional, estreando na televisão entre as protagonistas de Falas da Terra – Histórias Impossíveis, da Rede Globo. “Acho muito importante levar essa pauta. Além da curiosidade que vai te prender para ver, são novas perspectivas, linguagem, que têm a ver com a inovação. Me senti como quando a gente senta em volta da fogueira e escuta o cacique contar as histórias, os contos, estamos escutando e aprendendo, desenvolvendo nosso autoconhecimento e tendo acesso a uma sabedoria grande”, disse a modelo no material de divulgação da Globo.
Débora Motta
Do Maranhão, Débora Motta também desponta entre as apostas: a jovem de 19 anos mudou-se para São Paulo recentemente, onde é representada pela Joy Management. Em 2019, foi vista por olheiros e desde então dedica-se à formação na carreira artística, participando de cursos de passarela e interpretação.
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“Espero usar a carreira para trazer representatividade aos povos indígenas e às mulheres nordestinas”, afirmou a jovem, que promete ser destaque em breve no mundo fashion.