O estilista Walter Rodrigues vê com bons olhos o movimento que a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, tem feito em relação à moda brasileira, valorizando a produção nacional. Ele assinou os dois vestidos usados por Marisa Letícia, que faleceu em 2017, ex-mulher de Luiz Inácio Lula da Silva, na posse dos dois primeiros mandatos, em 2003 e 2007. O primeiro era um vermelho, e o segundo, amarelo, que também valorizava bordadeiras e artesãs de algumas regiões do Brasil.
O “Elas no Tapete Vermelho” bateu um papo com o estilista, que hoje é coordenador do Núcleo e Design e Pesquisa do Inspiramais, consultor do Instituto By Brasil, e curador do Projeto Focus Design Vision do Instituto Focus, sobre a importância de uma primeira-dama e mulheres que integram o governo usarem produtos brasileiros e como isso incide no futuro da moda brasileira.
Confira algumas ideias de Walter, que lembrou ainda a quebra de paradigmas em relação à escolha das peças de Janja: calça, colete e casaca.
Janja
“A roupa da primeira-dama estava elegante e trazia mensagens de modernidade na quebra de paradigmas ao usar calça comprida no lugar de saia, ponto positivo para Helô Rocha (estilista responsável pelo look), que soube dosar com perfeição a cor, os bordados promovendo nosso artesanato e principalmente a sustentabilidade a partir do tingimento natural (com caju e ruibarbo).”
País diverso
“Fiquei muito feliz com as escolhas das roupas de Janja. Elas nos fazem ter esperanças e ficaram perfeitas no cenário da posse, no qual pudemos nos emocionar com a cena da entrega da faixa e entendermos que somos diversos. E, sobretudo, que essa diversidade é nosso maior tesouro e que a moda e o design como um todo têm agora um futuro muito melhor do que tivemos nos últimos anos.”
Reconstrução
“Estamos 20 anos depois da primeira chegada de Lula à presidência do Brasil e novamente se faz sentir uma necessidade de projetarmos nossa identidade, resultado desse movimento de reconstrução do qual estamos todos felizes de participar. E a moda brasileira não poderia ficar de fora disso. Lá em 2003, vivíamos um periodo fértil para o setor, com uma grande expectativa de negócios, e com visibilidade internacional. Com isso, a oportunidade de vestir a primeira-dama do país foi para mim uma missão muito importante. Dona Marisa representava as mulheres do Brasil e deveria sempre estar vestida por um dos estilistas brasileiros.”
Valorizando tradições
“A moda brasileira nunca teve um referencial de negócios, claro que temos o apoio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) e da Apex (Agência Brasileira de Exportação), mas nunca fomos considerados geradores de PIB. A moda sempre ficou à deriva e continuamos assim 20 anos depois. Portanto, esse movimento conduzido pelas escolhas da nova primeira-dama faz todo o sentido. Na segunda posse, busquei também aplicar o rico artesanato brasileiro para a alegria de dona Marisa. Usamos renda de bilro feitas em Ilha Grande, um município piauiense perto do Delta do ParnaÍba. Uma associação de rendeiras produziu 600 flores para a confecção do casaco amarelo. E tivemos também a participação da Apoena, uma organização de Brasília que trabalhava com bordadeiras nas cidades satélites do DF, para o vestido da cerimônia realizada antes da posse no Congresso Nacional. Quando enfatizamos esses fazeres estamos valorizando nossas tradições e mostrando a novos designers a imensa quantidade de possibilidades criativas que temos para tornar a moda brasileira mais criativa e sem dúvida alguma mais original.”
Diversidade
“Essa diversidade que eu tanto gosto se fez presente no figurino de outras mulheres que abrilhantaram Brasília. Margareth Menezes, ministra da Cultura sempre foi um forte referencial de moda em sua carreira como artista, seu colorido e sua baianidade. Anielle Franco também sempre buscou em suas roupas aplicar os conceitos das raizes africanas e, nesse momento com o sucesso de marcas como Meninos Rei, Ateliê Mão de Mãe e outras marcas pretas, estabelece uma nova narrativa que vem ao encontro de uma moda menos eurocentrista e colonialista.”
Minimalismo de Lu Alckmin
“Pudemos perceber a importância da moda em outras participantes do evento de posse. A figura elegante e clássica de Lu Alckmim, com o minimalismo da estilista Gloria Coelho, e a chefe do cerimonial do Senado Federal, Ana Tereza Lyra Campos Meirelles com seu vestido da grife inglesa Hobbs, ambas pautando a posse com as variações da moda, democraticamente.”