Vivienne Westwood foi transgressora até em sua morte: resolveu morrer no mesmo dia de Pelé. O dia 29 de dezembro ficará na memória de todos como a passagem do Rei Pelé, a entidade que transcende a vida e os atos do humano Edson Arantes do Nascimento. Na memória do mundo fashion e da contracultura da moda, a estilista inglesa, que se foi aos 81, também se manterá viva.
Sua morte não levará embora décadas e décadas de transgressão, desde que abriu sua primeira loja, ao lado do ex-marido Malcolm McLaren, que vendia discos e roupas lá pelos idos de 1971, a Let It Rock. E depois de vários outros nomes, a loja passou a se chamar Sex, dando origem ao nome Sex Pistols, a banda punk, cujo marido era o produtor. E aí surgiu, com grande influência de Vivienne, já que vestia essa e outras bandas, a estética punk, com seus alfinetes, tachas, vinil e cabelos espetados.
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Mas Vivienne foi além do rótulo de estilista punk. Em 1981, lançou sua primeira coleção, chamada “Pirates”, pontuando aí o estilo que se tornou sua marca registrada: a mistura de roupas com modelagens históricas da realeza junto com elementos modernos. Saias amplas, lembrando as roupas da realeza, espartilhos e os tradicionais xadrezes tartãns se misturavam com uma pegada atualizada, cheias de tule, de cores, de recortes e, sim, de alfinetes. Uma das admiradoras de seu estilo é a atriz Helena Bonham Carter, que exibiu vários looks assinados por Vivienne em tapetes vermelhos.
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E continuam se misturando nas tendências atuais de vários outros estilistas e, inclusive de suas últimas coleções. As modelagens cheias de tecidos nas saias e corsets, assim como os sapatos de plataformas e saltos altíssimos, chegando a mais de 20 cm, lançados nos anos 1990, e que levaram a top model Naomi Campbell a cair na passarela, voltaram à moda e estão entre as principais tendências de hoje.
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Mas em 2008, dois fatos fizeram com que o nome de Vivienne Westwood fosse levado ao que hoje podemos chamar de “trend topics”. O vestido de noiva que Carrie Bradshow usou em “Sex in The City” e que foi visto em foto recente do segundo filme “And Just Like That”, um spin off da série que marcou os anos 2000. O perfil oficial dedicado ao figurino do filme publicou nesta quinta-feira (29) um foto em homenagem à estilista com a personagem vestindo a peça (acima). O vestido fez tanto sucesso que no ano seguinte foi relançado e se tornou responsável por 20% das vendas da marca naquele ano.
Outro fato marcante de 2008 foi o lançamento da coleção em parceria com a marca brasileira Melissa. Chamada Anglomania, com referência aos anos 1950, foi um estrondo de vendas. Os dois primeiros modelos foram o Mary Jane, uma releitura de um de seus clássicos, além do modelo peep toe com tira atrás, com seu logotipo de coração na frente. Para o lançamento, Vivienne veio ao Brasil e deu uma entrevista coletiva aos jornalistas durante o SPFW, em que, como sempre à frente de seu tempo, fez um discurso anticonsumo. Na ocasião, disse que preferia produzir menos e fazer bem, criticando principalmente o fast fashion. A defesa do meio ambiente, aliás, esteve sempre presente nas criações e na vida de Vivienne.
Na época, uma exposição com 100 sapatos criados por ela foi apresentada no Pavilhão do Ibirapuera, onde acontecida o SPFW, incluindo as botas estilo pirata, da sua primeira coleção, e o sapato que derrubou Naomi Campbell. Aliás, uma releitura da peça também foi criada em collab com a Louis Vuitton e seu tradicional logotipo em 1996.
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Resumo da ópera: a moda perdeu mais uma grande criadora, que fincou suas ideias de forma revolucionária além do mundo fashion. “God Save de Queen” dizia uma de suas estampas mais icônicas. “God Save The Queen Of Fashion”. E como disse Naomi Campbell no texto que homenageia a estilista no Instagram: “SEU LEGADO ESTÁ APENAS COMEÇANDO, e ficará gravado em pedra para sempre, pois sua contribuição para a nossa indústria é imensurável”.