O último dia da 54ª edição do SPFW, neste domingo (20), Dia de Consciência Negra, teve a maioria das grifes que desfilaram comandadas por estilistas negros. Nas passarelas em geral, também modelos negros já se encorpararam aos casting de forma natural, o que é muito bom. E como símbolo desse dia, teve ainda estreia de Bless, filho de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, na grife Dendezeiro. A cantora trans negra Liniker também desfilou, encerrando o último desfile do SPFW, para a marca mineira Apartamento 03.
Com todos os modelos negros e uma moda agênero, a coleção da Dendezeiro veio com pegada street como o conjunto em tom caramelo desfilado pelo garoto, composto por macacão e jaqueta. Branco e azul também pontuaram o desfile com todos os modelos negros.
Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank assistiram ao filho de 7 anos na primeira fila como tietes. No final da apresentação, os papais coruja não se contiveram e beijaram muito o menino.
Outros desfiles
Os desfiles da tarde no Komplexo Tempo, na Mooca, (pela manhã houve o da grife À La Garçonne e Korshi01 em outros locais), foram quase todos de estilistas negros ou de coletivos que ensinam costura para mulheres da periferia, como o Cria Costura.
O primeiro da tarde foi de Isaac Silva, agora a primeira mulher trans a ter uma grife no SPFW, já que há alguns meses se assumiu trans e estpa em processo de mudar o nome para Isa Isaac Silva. Ela levou para a passarela uma coleção chamada Griôs. A palavra griô tem origem na tradição oral africana, utilizada para designar mestres portadores de saberes e fazeres da cultura, esses transmitidos oralmente. “Tradicionalmente, os griôs contavam a história de seu povo na forma de poemas ou canções”, explicou no material divulgação da marca. Na passarela, também só modelos negros, incluindo o apresentador Manoel Soares.
Isa homenageou as estilistas Marisa Moura e Mama, que são as Griôs que usam a moda para sua mensagem. “Elas são base da minha inspiração em fazer moda por isso a coleção em homenagem a duas mulheres uma Brasileira outra africana”, explica a estilista. Ambas assistiram ao desfile.
A coleção trouxe vestidos, túnicas, saias amplas, muitos enfeitados com búzios dourados. Rendas e babados em roupas desfiladas por pessoas de todos os gêneros povoaram a passarela, em tons de amarelo forte e queimado, azul, rosa, lilás e branco. Tudo monocromático é confortável. Nos adereços, além dos búzios, turbantes e unhas com pingentes dourados pendurados.
Cria Costura
Um projeto de capacitação de costureiras apresentou uma linda coleção de peças poderosas, bem feitas, com volumes em mangas e acabamento precioso no SPFW. Trata-se do Cria Costura, em parceria com a InMode e a Prefeitura de São Paulo.
Foram apresentados 32 looks feitos pelas alunas de dois polos diferentes: um da Cidade Tiradentes e Brasilândia. Com o apoio da Vicunha, que doou 800 metros de tecidos, e com um coleção-cápsula com moldes doados pela Ellus, as alunas criaram peças inspiradas em suas memórias afetivas. No final, cada costureira saiu da plateia e se posicionou ao lado de sua criação. Emocionante.
Fartura
A estilista goiana Naya Violeta levou uma coleção alegre, ampla, colorida ao SPFW, com o tema de “Fartura”. Com estampas que remetem a peixe, milho, quiabo, lembrando a partilha do Candomblé.
Para dar forma a essa “fartura” toda, muitos volumes e babados, além da mistura dos desenhos coloridos e vivos, como que os elementos fossem servidos num mesmo prato apetitoso. Os desenhos levam a assinatura da artista e ilustradora Aline Bispo. Destaque para os vestidos leves e soltos, priorizando o conforto. Bela Gil e a deputada trans eleita Erika Hilton desfilaram para a marca.
Glamour
Weider Silveiro mostrou no último dia do SPFW uma coleção que é a sua cara: para uma mulher poderosa e elegante. Mas com uma dose extra de novidade: cores terrosos e amarronzados que nçao faziam parte de sua cartela de cores. As tonalidades entraram ate na única estampa da coleção: camuflado que sai do lugar comum.
Saias com volume moderado, casacos amplos, vestidos nem justos nem largos, mas sempre sofisticados, numa referência ao New Look Dior, responsável pela silhueta feminina no pós-guerra, nos anos 1950. E para festejar um glamour necessário nesse quase pós-pandemia, muito dourado.
Origens
O estilista Luiz Cláudio, da Apartamento 03, fechou o dia último dia também com uma volta às suas raizes negras, tanto no tema escolhido quanto em alguns materiais usados na coleção chamada “Áureo”. Ele se inspirou no livro “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves, para resgatar saberes históricos em uma ode à resistência, presente na história da personagem do livro, Kehinde, uma mulher africana que lutou por liberdade no Brasil.
Oxum, orixá que que representa sabedoria e poder feminino, foi a base para criar as peças em linho marrom, também novidade na cartela de cores de Luiz Cláudio, e branco. O preto também marcou presença no desfile, como o look desfilado pela cantora trans Liniker. E para criar algumas tramas, o mineiro apostou no material chamado kanekalon, utilizado para fazer tranças de cabelos e perucas, que remetem à infância do estilista. Palha faz as vezes de plumas em algumas peças. Há ternos riscados de dourado, maxicasacos de veludo rosa, vestidos de festa em azul, roxo e dourado. Pode anotar: o dourado e prateado prometem virar tendência.