As passarelas do São Paulo Fashion Week deste sábado (19) mostrou muito mais que roupas e tendências. Mostrou que moda também pode ser política, resgatar nossa cultura e trazer de volta um pouco a energia otimista de um Brasil que parecia ter ficado no passado. E também reviver os tempos de top model de antes. Neste sábado, teve a primeira deputada trans eleita Erika Hilton, o sambista Diogo Nogueira, muitos famosos e modelos que fazem parte da história do SPFW nas passarelas.
Além de mensagens de inclusão, de pessoas com deficiência desfilando e de frases nas roupas e de um protesto da estilista Milena do Nascimento, que “invadiu” o final do desfile da marca AZ Marias. Ambas as marcas faziam parte do projeto Sankofa, ação do Movimento Pretos na Moda, que nesta edição não aconteceu.
Algumas das grifes desfilaram agora, mas a de Milena, a Mile Lab, não. Ele declamou um texto sobre sua história, falando sobre o tema “Florescer”, nome da coleção de AZ Marias, cuja estilista é Cintia Felix, também é ativista das causas negras. Na passarela,passou Alexandra Loras, ex-condolessa da França no Brasil. A abertura, grupo feminino de streetdance deram um show e tanto. Corpos plurais, mulheres negras e um recado para pensarmos na preservação da Amazônia. Por isso, alguns modelos entraram com mochilas futuristas feitas com máscara no rosto e flores numa caixa de acrílico.
Deputada trans
A deputada tras eleita Erika Hilton para a Led (Foto: Agência BrazilNews)E na LED, de Celio Dias, uma das marcas que há tempos leva mensagens politicas à passarela, não podia ser diferente. “O Brasil do Futuro será Fabuloso” e “Meu Mito Sou Eu”, o estilista se inspirou nas festas do interior para criar peças de crochê e tecidos fluidos, como o terno vermelho com o qual desfilou a primeira deputada federal trans eleita Erika Hilton. Ela finalizou o desfile com o look e uma faixa presidencial. Quem sabe apontando para um futuro fabuloso sem preconceito. Fernanda Keulla, o influenciador Esse Menino também cruzaram a passarela.
“Acho que essa intersecção entre moda, beleza, política, arte e cultura é o que o Brasil precisa ir para frente. É preciso interseccionar, é preciso juntar e a moda é um instrumento de comunicação muito potente”, disse Erika o perfil do SPFW no Instagram. Erika também desfilou para a grife Anacê.
Resgantando origens
Essa intersecção pode ser vista em outros desfiles do dia, como no do Projeto Ponto Firme, capitaneado por Gustavo Silvestre, que fez sua sétima apresentação no evento. O desfile teve como referência o Manto Cerimonial Tupinambá, confeccionado entre os séculos 16 e 17, símbolo da memória e da resistência do povo indígena Tupinambá. “Sua história nos leva aos tempos remotos dos primeiros encontros com europeus que aportavam na costa brasileira e nos atualiza sobre a história recente de luta pelo reconhecimento da identidade, dos direitos e da terra indígena”, afirmou Gustavo Silvestre.
Mas não só isso. Os 30 looks, que vem com brilho, sobreposições e estampas foram desenvolvidos com artesãos que são alunos detentos, egressos do sistema prisional, pessoas trans em situação de vulnerabilidade social e também refugiados. Além disso, foram peças desenvolvidas por artesãos indígenas com curadoria da stylist indígena Day Molina.
“A representatividade não é só sobre ter uma modelo na capa. Precisamos descolonizar o nosso olhar, a nossa mente, a nossa escuta. Por muito tempo, se teve esse olhar eurocêntrico sobre a vida, sobre os comportamentos, as tendências de moda e beleza. Precisamos ver aquilo que é original desse país como algo belo”, disse ela no material de divulgação.
Alegria e samba
A estilista baiana Monica Salgado, da grife Santa Resistência, apresentou um lindo desfile fazendo uma paralelo entre o Rio antigo, dos anos 1950 e o momento atual. Naquela década, no pós-guerra, houve um renascimento da moda, um glamour, com mais oferta de tecidos, um retorno da elegância.
Por isso, a coleção veio recheada de silhuetas mais largas, como o terno verde mostrado pelo sambista Diogo Nogueira, que sambou desfilando na passarela. As mulheres vinham com silhuetas fluidas e longilíneas. A atriz Cris Vianna encerrou a apresentação com um lindo vestido longo branco.
Estampas inspirada no desenho de Burle Marx para a capa da revista Rio, de 1953, e em paisagens do Rio Antigo, homenagem em verde e rosa ao amor de Cartola e Dona Zica, da Mangueira, marrom, magenta e branco também coloriram o alegre desfile da marca. Daquele pós-guerra dos anos 1950, para os dias de hoje, após pandemia e tensões sociais, “através da ciência, da educação e da cultura, temos o desejo de construir um futuro melhor para todo mundo”, disse a marca no material de divulgação. O desfile realmente veio cheio de energia e alegria, com a plateia saindo com vontade de sambar.
Famosas
Se Diogo Nogueira, Cris Vianna, Fernanda Keulla cruzaram a passarela, outras marcas também levaram famosos para mostrar suas roupas.
O primeiro desfile do sábado, no Shopping Iguatemi, foi da estilista de Cabo Verde Ângela Brito, que apresentou a coleção “Estrangeira”: uma reflexão sobre um universo futurista em que corpos podem ir e vir livremente, sem as fronteiras tão presentes atualmente, em que imigrantes não são bem-vindos num mundo globalizado.
Na passarela, Camila Pitanga exibiu um dos lindos looks inspirados em nômades da Ásia e da África. A atriz usou um branco, mas a coleção trouxe outras cores, como bege, marrom, preto e branco, ao lado de dourado, amarelo, azul e vermelho. O movimento das peças vinham com drapeados, pregas e plissados, com recortes, amarrações e sobreposições leves. Para compor com os looks monocromáticos, adornos de resina de formas orgânicas e pinturas corporais douradas.
Em seguida, também no Iguatemi, onde tem acontecido a maioria dos desfiles da manhã, a Neriage levou plissados sobreposições e leveza a sua coleção chamada Oasis, com Daiane Conterato e a a veterana modelo Silvia Pfeifer, agora atriz, na passarela. Os tons terrosos e rosáceos, chegando ao marsala pontuaram o desfile, além do preto em lindos looks de veludo com movimentos leves. Uma prova que elegância anda de mão dadas com a suavidade.
O preto também apareceu na coleção da marca Silvério, em que os estlista mais uma vez se inspirou na noite e em animais noturnos para criar looks darks, com plumas e algumas pinceladas de vermelho e amarelos, com o ex-BBB Fernando Fernandes, que ficou paraplégico após um acidente, desfilando sobre cadeira de rodas. A influenciadora Camila Coutinho também desfilou.
Tops models
O último desfile da noite saiu do Komplexo Tempo, na Mooca, onde acontece a maioria das apresentações, e foi para o auditório do Ibirapuera, para que a estilista carioca Lenny Niemeyer apresentasse sua estonteante coleção de moda praia e lifestyle praiano com um time de modelos para lá de estrelados.
Gianne Albertoni, Raica Oliveira, Marcelle Bittar, Carol Francischini, Barbara Berger, Barbara Cavazotti, Alessandra Berriel e Daiane Conterato vestiram seus maiôs com recortes, vestidos fluidos e esvoaçantes ou com barras que dão estruturas e se transformam em verdadeiras esculturas para serem vestidas. As modelos fazem parte da história do SPFW. Gianne Albertoni, por exemplo, desfilou nas primeiras edições, em meados dos anos 1990, aos 13 anos, quando era permitido desfilar antes dos 16 anos. Um dia para ficar marcado na vida fashion do Brasil.
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