Tauana Andrade, de 19 anos, está se convertendo em uma das apostas atuais da moda, em campanhas e passarelas. Negra e da periferia, a jovem até recentemente fazia tranças tipo raiz para ajudar a mãe em Camaçari, pequena cidade da Bahia. “Hoje, a moda realiza um sonho que parecia tão distante”, afirmou a garota, natural de Salvador.
Por mais de dois anos, visitava domicílios e recebia a clientela na varanda de casa, que dividia com a mãe e a irmã. “Antes, a gente morava em uma comunidade que era apelidada de ‘invasão’, no bairro da Calçada, em Salvador. Moramos lá por três anos: eu, minha irmã e minha mãe, onde dividíamos o mesmo cômodo. Lá na comunidade, viviam mais parentes também – e muitas outras famílias carentes. Infelizmente, não tinha nenhuma estrutura básica”, relembrou.
“As tranças, passei a fazer quando nos mudamos para Camaçari. Eu aprendi sozinha, praticando. Treinava bastante no meu cabelo e no de amigas. Quando criança, minha avó fazia em mim e eu ficava apaixonada”, recordou.
Recentemente, Tauana mudou-se para São Paulo, onde vem realizando o sonho de infância: trabalhar como modelo. “Desde muito nova eu ficava me imaginando em desfiles, brincava com os sapatos de salto alto e as roupas da minha mãe”, contou.
“Além do trabalho de trancista, eu estudava e fazia muitos projetos na escola, com dança, teatro e capoeira. Também cheguei a trabalhar com atendimento ao cliente. Eu achava que trabalhar como modelo era um sonho muito distante de alcançar. A partir de 2018, comecei a fazer alguns ensaios fotográficos, sem muita pretensão, pra postar nas redes sociais – e foi assim que tudo começou!”
Descoberta por profissionais da moda, Tauana vem despontando desde então: em 2020, ficou entre as finalistas do concurso Beleza Black, na Bahia e, em 2021, virou aposta da Way Model, de Anderson Baumgartner – mesma agência de tops prestigiadas como Sasha Meneghel, Carol Trentini e Alessandra Ambrósio. Tauana também já estrelou trabalhos para grifes renomadas como Animale, David Lee e Torino, além de desfile no Dragão Fashion, em Fortaleza.
“Hoje estou vivendo esse sonho que eu achava tão distante. Quero representar pessoas como eu, negra, de família humilde, vinda de uma comunidade, onde todos aprendem com pouco. De lugares que não tem muitos recursos e que buscam oportunidade. Mostrar que somos capazes de encontrar luz, apesar de todas as dificuldades”, afrimou a modelo, que conversou com o “Elas no Tapete Vermelho”. Confira trechos da entrevista abaixo.
Elas no Tapete Vermelho – Desde quando você começou a pensar em ser modelo?
Tauana Andrade – Sempre quis trabalhar como modelo, desde muito novinha. Quando adolescente, fui deixando aquele sonho guardado, pois acreditava que seria muito distante para eu alcançar.
Elas no Tapete Vermelho – Quando se inscreveu no concurso Beleza Black pensava que chegaria entre as finalistas e seria descoberta pela Way Model?
Tauana Andrade – Não, em hipótese alguma. No momento que fiz a inscrição nem passava na minha cabeça que eu pudesse chegar tão longe na moda. Quando aconteceu de eu ser finalista e logo depois ser descoberta pela Way, foi um choque para mim.
Elas no Tapete Vermelho – Conta um pouco desse momento a partir do concurso. Aliás, já tinha participado antes?
Tauana Andrade – Nunca tinha participado de nenhum concurso antes. No decorrer desse, passei a ter certeza de que era aquilo que eu queria para minha vida. Já acordava feliz e animada quando tinha ensaios. Confesso que fiquei um pouco nervosa por nunca ter participado antes, mas tinha certeza de que esse concurso iria me trazer muitas oportunidades.
Elas no Tapete Vermelho – Qual a maior barreira para alcançar seus sonhos?
Tauana Andrade – A maior barreira era financeira, mas isso não fez com que eu desistisse. Eu fazia peças de de crochê, como jogos americanos e bolsas, fiz uma rifa também. Tudo isso para juntar dinheiro para viajar e realizar os meus sonhos.
Elas no Tapete Vermelho – Como vê a situação das pessoas como você, negra e da periferia, atualmente? O que falta para terem visibilidade e alcançarem seu sonho.
Tauana Andrade – Sei que ser periférica e negra não é fácil pelas faltas de oportunidades que temos, mas precisamos ser ousados, acreditar e ir à luta mesmo. Ter a certeza de que todos nós somos capazes de viver nossos sonhos.
Elas no Tapete Vermelho – Por quanto tempo trabalhou como trancista? Ainda faz para amigas ou para você mesma?
Tauana Andrade – Nos tempos livres eu ainda trabalho com tranças e faço crochê. Tranças são minha paixão, pela história que elas tem, pela nossa resistência e pela arte.
Elas no Tapete Vermelho – E as demais atividades que fazia, como dança, capoeira e teatro?
Tauana Andrade – Eu não faço mais essas atividades, nos tempos livres eu gosto de dançar e ouvir música. Pratico atividades físicas. Além da saúde, me ajuda na minha profissão. É o meu refúgio.
Elas no Tapete Vermelho – Você se inspira em alguma personalidade do mundo da moda ou não?
Tauana Andrade – Atualmente eu me inspiro nos meus amigos com quem eu convivo, por suas histórias de vida e por virem da mesma realidade que a minha. São minha fonte de inspiração.
Elas no Tapete Vermelho – Como sua família te apoia em relação à carreira?
Tauana Andrade – Minha família sempre me apoiou, principalmente minha mãe e minha tia. Mesmo tendo pouco, elas me ajudaram muito para que eu estivesse aqui hoje, e outras pessoas sempre me davam palavras de motivação. Foi com muita dificuldade, mas deu tudo certo. Ainda irei dar muito orgulho a minha família e é nela que eu mais penso.