Se faltava representação trans na moda, não falta mais. O último desfile da 53ª edição do SPFW encerrou o evento com show de drags comandado pela veterana Márcia Pantera, que animou a plateia e foi homenageada na coleção “Panterona”, criada por Isaac Silva, que levou para a passarela o lema “Acredite no seu Axé”, DNA da marca.
Na passarela, além de modelos negros, várias travestis e simpatizantes da causa LGBTQIA+, como a ex-BBB Thelma Assis, o ator Ícaro Silva, que havia desfilado na grife anterior, Mãos de Mãe, a modelo Rita Carreira, só para citar alguns.
O estilista baiano transformou o Espaço Komplexo Tempo numa discoteca dos anos 1970 e seu desfile realmente foi uma festa, com cabelos amplos, maquiagem brilhante e até bolsa em formato do globo espelhado, símbolo das casas noturnas daquela época.
O brilho também presente nas roupas era acompanhado de bordados com a frase “Panterona do Brasil”, como nos looks usados por Ícaro e Thelminha. Estampas de panteras em looks pretos e brancos também apareciam em homenagem à figura icônica da noite paulista, que quase no final do desfile entrou com uma moto.
No final mesmo, as drags e travestis do começo da apresentação entraram com uma enorme bandeira da comunidade LGBTQIA+, junto com os demais modelos e famosos. Mesmo num país que mais mata pessoas trans e homossexuais do mundo, há espaço para conscientização com alegria e festa. E a apresentação de Isaac Silva provou isso.
Política e inclusão
Esta edição foi uma das mais políticas do calendário de moda de São Paulo. Praticamente todas as grifes levaram um recado à sociedade, seja denunciando racismo, incluindo a comunidade LGBTQIA+ na passarela, além de negros, indígenas, plus size e pessoas com deficiência. No sabado (4), vária grifes deram seu grito de guerra.
Lula
Depois do “Fora Bolsonaro” no desfile da grife Meninos Rei, a noite deste sábado (4) no SPFW. teve Bandeira com o rosto do Lula na passarela, pelas mãos do estilista mineiro Célio Dias, da LED, que sempre tempera as coleções com posições políticas.
Na passarela, além dos modelos, amigos do estilista, incluindo o ex-BBB Gil do Vigor, que já declarou seu voto ao petista.
Corpos reais à mostra
Uma moda pra gente real, feita com tecidos que duram e que tem peças que podem ser combinadas com outras de outras coleções. E tudo com uma energia contagiante. Foi assim o desfile da marca AZ Marias, comandada por Cíntia Felix, que incentivava os modelos durante o ensaio, que resultou num desfile alegre e vibrante.
em pudor de deixar seios à mostra, com tapa-mamilos, e outros corpos à mostra, a marca, que integra o Projeto Sankofa, mostrou o que se chama de slow fashion, em corpos que representam quase a totalidade das mulheres brasileiras. Ah, e também teve homens desfilando, mas as roupas são para todos os gêneros.
Grito
A marca Santa Resistência, que faz parte do Projeto Sankofa, soltou um grito ancestral de guerra pela boca da primeira modelo, a descendente indígena Dandara Queiroz, que entrou na passarela. A marca mostrou a história de três mulheres guerreiras que marcaram a história da Bahia, em lutas pela independência em 1822, no Recôncavo Baiano: a indígena Catarina Paraguaçu, a negra Maria Felipa e a Branca Maria Quitéria.
Na passarela, roupas com acabamento perfeito, feitas em alfaiataria ou trabalhos manuais como crochê e tear, em tons de verdes, azuis, rosas e estampados. A ex-miss Brasil Raisssa Oliveira encerrou o desfile com vestido preto e arranjo de cabeça quem lembrava uma rainha.
Mais crochê
A grife Ateliê Mão de Mãe, egresso do Projeto Sankofa, apresentou seu terceiro desfile no SPFW, trazendo um crochê cada vez mais refinado e com a introdução de peças feitas em tecidos planos. Um conjunto com confortável blusa listrada de crochê e calça vermelha de tecido plano foi usado por Ícaro Silva, em sua volta às passarelas.
A apresentação começou com tons leves de azul, passando para o marrom, rosa e vermelho. A coleção homenageia a comunidade Maragogipinho, localizada no Recôncavo Baiano, um dos maiores polos de artesanato brasileiro.