SPFW desfila inclusão, sustentabilidade e fetiche no 2ª dia

O segundo dia da 53ª edição do SPFW, em formato híbrido – presencial e digital – colocou no balaio fashion uma mistura sustentabilidade verdadeira, inclusão real e fetiche tão em alta neste quase pós-pandemia. E também um perfume que mistura leveza  com tempero baiano e alfaiataria desconstruída.

Ponto Firme (Foto: Allison Sales/Senac/Divulgação)
Ponto Firme (Foto: Allison Sales/Senac/Divulgação)

Na ausência de grifes que fizeram a história do São Paulo Fashion Week, como Ronaldo Fraga, outras mais novas ou antigas, mas estreantes, estão levando novos ares ao evento, que também está reformulado. Chamada de In-Pactos, o edição traz desfiles presenciais divididos em dois lugares. “Sempre quis levar o SPFW para a academia, para que alunos de moda, de audiovisual, por exemplo, vivenciassem de perto todo o processo”, disse o diretor criativo Paulo Borges em conversa com a imprensa.

Assim, as apresentações acontecem no Senac Lapa Faustolo, na parte da tarde. A escola até está fazendo distribuição de livros de moda gratuitamente para os interessados. à noite, o “circo fashion” se desloca para o espaço Komplexo Tempo, que tem como fundo lounges àa margens de antigos trilhos de trem da estação da Mooca, distante 13 km do Senac.

Martha Medeiros no SPFW (Fotos: Rosângela Espinossi)
Martha Medeiros no SPFW (Fotos: Rosângela Espinossi)

No segundo dia do evento, os desfiles no Senac mostraram que a sustentabilidade ganha espaço, com a estreia de Martha Medeiros, que narrou, ela mesma, sua história, com vestidos de várias épocas. Os comentários pós-desfile eram de que a rendeira alagoana poderia ter trazido ares mais frescos ao seu primeiro desfile no SPFW, já que seu trabalho de renda criado em alfaiataria bem feita conquistou o mundo.

Martha Medeiros na SPFW (Fotos: Rosângela Espinossi)
Martha Medeiros na SPFW (Fotos: Rosângela Espinossi)

Mas se a moda hoje tem a sustentabilidade como suporte, por que não mostrar que sua roupa sobrevive a gerações, como vestido longo branco feito há 32 anos?

Ponto Firme (Foto: Allison Sales/Senac/Divulgação)
Ponto Firme (Foto: Allison Sales/Senac/Divulgação)

O desfile do Projeto Ponto Firme, que existe desde 2015 e é capitaneado pelo estilista Gustavo Silvestre, tem, por outro lado, mostrado uma inquietação cada vez mais necessária na nossa sociedade. O inicio foi apenas levar o crochê para dentro da penitenciária e ensinar o ofício a ex-detentos. Depois, veio a pandemia e a entrada no espaço foi proibida. Então egressos do sistema penitenciário deram continuidade ao trabalho. Esse ano, foi aberta a escola Ponto Firme, no Centro de São Paulo, que incluiu mais grupos.

Ponto Firme (Foto: Allison Sales/Senac/Divulgação)
Ponto Firme (Foto: Allison Sales/Senac/Divulgação)

Promovido pelo Ministério Público do Trabalho, o curso Faces & Sustentabilidade, é ministrado Gustavo Silvestre na escola. As aulas duraram um mês e aconteciam duas vezes por semana para dois grupos distintos: um de pessoas trans, formado em grande parte por alunas egressas do sistema prisional, e outro de pessoas refugiadas, sendo 12 aprendizes em cada turma. Parte desse trabalho foi apresentado no desfile, com fios da Círculo S/A crochetados em materiais reutilizados, como calça jeans, sacos de arroz. Com acréscimo de miçangas e outros materiais reutilizados, as peças exclusivas ganham viés fashion e atemporal, já usadas até por famosas como Juliette e Juliana Paes.

Noite

À noite, o SPFW tirou o público fashion da escola (Senac) e levou para uma balada num galpão antigo revitalizado, com lounges ao fundo e venda de bebidas estilo casa noturna no Komplexo Tempo, localizado em meio a zona ainda repleta de galpões na rua Henry Ford, na Mooca.

Rocio Canvas (Foto: Naalia Almeida/Senac/Divulgação)
Rocio Canvas (Foto: Natalia Almeida/Senac/Divulgação)

Lá, se apresentaram as grifes Rocio Canvas, com sua alfaiataria bem feita, com modelagem desconstruída e nada careta. Ainda que seja uma tendência internacional, há peças que podem ser usadas de várias formas. Numa atitude de sustentabilidade, muitas dos looks fora feitos com tecidos de seu estoque. Blazers, casacos, vestidos, cojuntos, principalmente em branco e preto, alguns verdes e vermelhos, cruzaram a passarela acompanhados de meias e sapatos coloridos.

Marina Sena (Foto: Cassiano de Souza/Divulgação)
Marina Sena (Foto: Cassiano de Souza/Divulgação)

A última a se apresentar foi a marca Bold Strap, assumidamente queer, que contou com a presença de Camila Queiroz, Marina Sena e a apresentadora e influenciadora Letticia Munniz na passarela, além d e Cleo Pires na plateia.

Cleo com roupa da coleção nova da Bols Strap (Foto: Cassiano de Souza/Divulgação)
Cleo com roupa da coleção nova da Bols Strap (Foto: Cassiano de Souza/Divulgação)

Elas e os demais modelos usaram looks inspirados no universo motorcycle, com a pegada fetichista pesada, incluindo botas até as coxas, recortes, peças cropped, transparentes e amarrações, com tiras e correntes, deixando o look apelo sexy extremo. As peças que trazem a tendência cut-out fazem parte do DNA da marca e, apesar de estarem em alta atualmente, não devem sair de sua cartela de criação, que são pensadas para todos os corpos.

Aliás, modelos de todos os gêneros, etnias e silhuetas e condições, incluindo Maju Araújo, que tem síndrome de Down, e desfilou para a Ponto Firme, já não são exceção nas passarelas do São Paulo Fashion Week. É a diversidade abrindo cada vez mais espaço necessário no mundo fashion.

Digital

O segundo dia do SPFW teve também três desfiles digitais. Fauve, a estreia da Dendezeiro e TA Studios.

Fauve (Thiago Santos/Divulgação)
Fauve (Thiago Santos/Divulgação)

A Fauve, que tem como diretora criativa Clara Pasqualini, se inspirou no universo das esculturas, design, arquitetura e movelaria para criar as formas e texturas das peças, em tons principalmente de marrons, beges e pretos, com alguns toques de laranja e rosa.

Dendezeiro (Foto: Kevin Oux/Divulgação)
Dendezeiro (Foto: Kevin Oux/Divulgação)

A Dendezeiro colocou no tabuleiro baiano peças que remetem às comidas típicas do Estado, culinária com influência africana. Já à venda no site da marca, as peças trazem as cores dos quitutes, como o , acarajé, abará, caruru, vatapá e cocada. Branco, vermelho, ocre, verde estão na cartela. Sarja, malha de algodão, misturados a miçangas, em modelagens para todos os corpos.

Ta Sudios (Foto: Leonardo Monção/Divulgação)
Ta Sudios (Foto: Leonardo Monção/Divulgação)

A marca TA Studios levou questionamentos religiosos à coleção, em peças ue variam dos curtos ao longos, lisos e estampados.

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