O mundo fashion veio abaixo após o anúncio do Balenciaga Paris Sneaker, tênis com aspecto totalmente destruído que custa até US$ 1,8 mil, cerca de R$ 10 mil. Segundo comunicado do perfil Demnagran, alimentado pelo estilista Demna Gvasalia com notícias da Balenciaga (lembrando que os perfis da grife e do estilista estão sem publicação alguma), os tênis são destinados a serem usados para toda a vida e terá edição limitada de 100 pares nas versões em preto e branco.
E a reflexão que se faz e que está nas entrelinhas dos memes e das repercussões nas redes é: Quem gastaria esse valor na compra do calçado, cuja descrição do produto diz: “Algodão e borracha totalmente destruídos e rasgos em todo o tecido”? Talvez apenas aqueles que querem mesmo ter um peça que vai virar histórica.
Mas a atitude de marca e do estilista vai mais além. É questionar a moda, o consumo e a necessidade de sempre comprar, comprar, comprar. O fato de que “são destinados a usar a vida toda” é exatamente de colocar o dedo no consumo consciente. “A história se sobrepõe à estética. E uma atitude que questiona o consumo consciente, sustentável”, afirmou o consultor de moda e apresentador Arlindo Grund ao “Elas no Tapete Vermelho”.
“Se você falar de consumo consciente é lembrar da necessidade de comprar uma peça e usar até o final e, ao mesmo tempo, mostrar que é possível também usar um tênis que já está destruído”, disse Grund. Para ele, a marca e o estilista conseguiram o que queriam: “Que o mundo todo falasse de um modelo de tênis”.
A mesma opinião tem o estilista e pesquisador de tendências Walter Rodrigues. “Penso que hoje o que mais importa é o zum zum nas redes, provocar para chamar a atenção – Demna Gvasalia é muito bom nisso”, afirmou ao “Elas no Tapete Vermelho”. E foi além. “Não sei se essa proposta de produto traz para a moda algum valor – se por um lado estimula a pensarmos em usar nossos artigos velhos encarando a trend de frente, o que eu acho bacana – por outro lado glamoriza a pobreza em um tempo em que fome, falta de recursos e mesmo o estado de guerra, indica tristeza e angústia. Isso prova que “polêmica” hoje está dando suporte à moda, e a moda deveria ser um espaço de celebração e comunicação de alegria e vida”, concluiu.
Outros
De qualquer forma, a moda vira e mexe coloca o dedo na ferida. Nos anos 1980, a invasão japonesa na moda fez esse papel, como no desfile da grife Comme des Garçons, da estilista Rei Kawakubo. A coleção chamada Destroy, desfilada em 1982, trazia looks perfurados, silhuetas drapeadas e formas amplas, sem marcar o corpo feminino. E muito preto, cor preferida da estilista. Um espanto e um sucesso imediato, o conceito foi assimilado mundo afora.
Nos anos 1990, as peças com as costuras aparentes, descosturadas, inacabadas marcaram uma geração e a década, com o estilo proposto pelo estilista belga Martin Margiela, casa hoje comandada por John Galiano. Foi ainda responsável por desconstruir a alfaiataria, como em blazers com costuras sem terminar.
O próprio Demna mudou a visão da moda alguns anos atrás quando abriu a grife Vetements e apostou nas modelagens muito amplas, que até hoje dão as caras entre as tendências, marcando a moda da segunda década do século 21. O estilista, refugiado da guerra civil da Georgia, também foi responsável pelos tênis Chucky, também chamados tênis feios, aqueles grandões, que viraram febre e ainda estão entre as tendências. O que acha dessa moda? Você usaria?