A modelo e atriz Juliana Nalú, nascida e criada no Complexo do Chapadão, no Rio de Janeiro, de 23 anos, viu sua vida dar uma reviravolta aos 14 anos. A virada começou em 2016, quando venceu o “CUFA – Solte seu Brilho”, concurso realizado pela TV Globo em parceria com a Central Única das Favelas e que contou com a atriz Taís Araújo como madrinha.
Desde então, mudou-se para Los Angeles e coleciona em seu currículo campanha de beleza para a poderosa L’Oréal e para grifes internacionais de moda, como Urban Outfitters, American Eagle e PrettyLittleThing, entre diversas outras. Ela deixou a comunidade aos 14 anos, mas a comunidade não saiu dela. E hoje, orgulhosa, responde a quem pergunta de onde ela é: “I’m from Rio, from the favela”.
“Minha mãe sempre batalhou muito. Nunca tive luxos durante minha infância e adolescência, mas tive o essencial pra me tornar quem sou hoje: muito amor e educação”, afirmou. Representada no Brasil por Pedro Bellver e Wellington Vieira, da Mix Models, a jovem já atuou em outros disputados mercados, como Reino Unido, Espanha e Grécia.
Em paralelo ao sucesso na moda, Juliana estudou artes cênicas pela CAL – Casa das Artes de Laranjeiras, e conquistou a oportunidade de participar do último episódio da novela “Segundo Sol”, da Rede Globo, como par romântico de Chay Suede, em 2018.
“Tenho muita gratidão por tudo que vivi e o que aprendi nesse caminho. Meu próximo passo é implantar um projeto social para ajudar os jovens da comunidade onde cresci”, revelou a modelo, que concedeu entrevista exclusiva ao “Elas no Tapete Vermelho”. Confira:
Elas no Tapete Vermelho – Você imaginava alcançar o sucesso quando vivia na comunidade? Sonhava com a carreira ou participou do concurso por participar, sem pretensão?
Juliana Nalú – Eu sempre sonhei grande, sempre acreditei que seria possível! Me imaginava em lugares importantes – e creio que isso foi fundamental pra chegar até aqui: acreditar em mim mesma. Sei que tem muito mais por vir, porque venho trabalhando muito para isso.
Elas no Tapete Vermelho – Há muito preconceito em relação a vida nas comunidades. O que você falaria para as pessoas de fora e o que você faria para mudar essa concepção?
Juliana Nalú – É o que eu sempre converso com os meus amigos aqui fora: tem muitas meninas como eu nas comunidades pelo Brasil, muitas meninas com ainda mais potencial. A diferença é que eu tive oportunidades que infelizmente não chegam a todos. Quando entendermos que temos jovens gigantes nas nossas comunidades – e começarmos a dar visibilidade e oportunidades a todos – perceberemos que a procura por talentos deixou de lado lugares tão especiais e cheios de gente com potencial.
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Elas no Tapete Vermelho – Você tem projeto quer implantar um projeto social na comunidade. Já tem ideia em que área quer atuar?
Juliana Nalú – Sim! Vou começar com um projeto na comunidade onde cresci, no Complexo do Chapadão, mais precisamente Ricardo de Albuquerque. Quero visar em oportunidades, com projetos para estimular a criatividade de meninas e meninos que tem um sonho que vai além das perspectivas dadas às pessoas que não nasceram em lugares privilegiados.
Elas no Tapete Vermelho – A seu ver, qual a maior carência dos jovens na comunidade?
Juliana Nalú – São muitos os problemas, mas um dos principais é a falta de projetos que estimulem a criatividade, que deem diferentes pontos de vista e perspectivas. Muitos nunca saíram do bairro onde nasceram, nunca foram a um museu. Isso está muito ligado à carência desde a estrutura familiar, porque muitas famílias infelizmente não tiveram essas oportunidades. Este ponto seria onde os projetos sociais deveriam intervir, dando uma perspectiva de oportunidades.
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Elas no Tapete Vermelho – Qual foi seu maior desafio assim que ganhou o concurso?
Juliana Nalú – Acho que foi o pensamento: “E agora? o que eu faço?”. É um mercado onde precisamos estar em constante movimento. Como tudo era muito novo pra mim, eu não sabia como funcionava um processo criativo e também não entendia de network. Fiquei estudando teatro e esperando por oportunidades. Acho que a maior dificuldade daquela época era me deslocar pra faculdade – eu precisava pegar dois ônibus e um metrô, mas mesmo assim chegava lá feliz da vida, porque já era uma vitória estar cursando uma faculdade de artes cênicas e contrariando as estatísticas.
Elas no Tapete Vermelho – Esse foi também seu maior desafio na carreira?
Juliana Nalú – O maior desafio da minha carreira foi me acostumar a viver longe da minha família. Vim morar fora com 19 anos e, desde então, só volto ao Brasil para fazer visitas, por isso sinto muita falta da minha base, mas mantemos contato todos os dias.
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Elas no Tapete Vermelho – Você sofre ou sofreu algum preconceito por ter saído de uma comunidade ou por outro motivo?
Juliana Nalú – No começo sim, mas depois de um tempo tiveram que aceitar. Eu tenho muito orgulho de ter vindo de uma comunidade. Aqui fora, quando me conhecem e perguntam de onde eu sou, eu já falo cheia de orgulho: “I’m from Rio, from the favela”. Com a boca cheia, porque é assim que a gente vai mudar esse estereótipo de que vir da favela é uma coisa ruim, chegando a lugares altos e batendo no peito com muito orgulho dizendo que é do Chapadão, da Cidade de Deus, ou de onde for sua raiz. Pra mim, ter nascido lá foi uma benção, pude ter experiências incríveis e provar que sou “braba” mesmo! (risos)
Elas no Tapete Vermelho – O que você tem a dizer para as jovens que querem seguir a carreira de modelo?
Juliana Nalú – Acredite em você! Não escute pessoas que não tem a mesma perspectiva de vida que você. E o mais importante: tome atitude! Não espere a oportunidade vir até você. Faça de alguma forma com que o seu talento chegue até a oportunidade. Uma coisa que temos hoje em dia a nosso favor são as redes sociais, então “bote a cara!”.
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Elas no Tapete Vermelho – Além de modelo, você é atriz e também dança. Qual das ocupações gosta mais?
Juliana Nalú – Não cheguei a me formar como atriz devido ao fluxo de trabalho aqui fora. Ficou faltando um período pra eu terminar (planejo terminar em breve aqui em Los Angeles). Sempre procuro meios de me expressar através da arte – e me encontro muito também dançando. Nunca fiz cursos, mas sempre foi uma grande paixão celebrar o corpo. Comecei uma aula de pole dance há 2 semanas e estou curtindo bastante. Mas sem dúvidas, entre atuação e dança, a atuação é o meu ofício preferido.
Elas no Tapete Vermelho – Qual o trabalho mais marcante que você já fez?
Juliana Nalú – A campanha da L’Oréal foi definitivamente um “boom” no início da minha carreira e por isso sou muito grata. Aqui fora, tenho feito campanhas para marcas que gosto muito – e outras ainda maiores estão por vir!
Nossa MUSA @naluando e nosso novo queridinho Elseve Cicatri Renov! #fizplasticasim #cicatrirenov pic.twitter.com/nifenYGRSZ
— L’Oréal Paris Brasil (@LorealParisBR) September 4, 2017
Elas no Tapete Vermelho – Além do projeto social, quais outros projetos profissionais tem em mente?
Juliana Nalú – Estou trabalhando na minha primeira marca de design de roupas, aqui em Los Angeles, que pretendo lançar em no máximo 3 meses, com muita inspiração no RJ e todo o nosso estilo de vida.