Com anônimos e famosos, SPFW termina com foco na pluralidade

A pluralidade tomou conta da edição 52 do SPFW em vários aspectos. Teve desfile digital e presencial, teve grifes antigas e estreantes, teve roupa de shopping e de periferia, teve famosos e anônimos, teve roupa virtual (skins dos games) e roupa real. Mas neste sábado, Dia da Consciência Negra, a presença dos negros na passarela, nos bastidores, como estilistas e na plateia se potencializou.

Camila de Lucas no Apartamento 03 (Foto: Marcelo Soubhia/Agência Fotosite)
Apartamento 03
Camila de Lucas no Apartamento 03 (Foto: Marcelo Soubhia/Agência Fotosite)

E isso não só por conta do protocolo de ter 50% dos afrodescendentes e indígenas na passarela. Mas porque estão ocupando seus espaços onde antes as portas não estavam totalmente abertas. Precisou de um empurrão com os pés (como a exigência da cota) para se perceber o óbvio que até então estava oculto.

Rafaella Santos no desfile da Baska (Foto: Marcelo Soubhia/Agência Fotosite)
Rafaella Santos no desfile da Baska (Foto: Marcelo Soubhia/Agência Fotosite)

Mas não só negros. Gordos, idosos, baixos também cruzaram as passarelas e os corredores. Modelos que vêm da periferia e jovens das quebradas também. Famosos como Sasha, Camilla de Lucas, Rafaella Santos e tops famosas fizeram o cruzamentos com pessoas totalmente anônimas nas passarelas e camarins. Ainda falta um longo caminho a trilhar, mas a largada foi dada. E como disse o diretor criativo do evento Paulo Borges para o “Elas no Tapete Vermelho”: “Foguete não dá ré”.

Desfile da maca Mini Lab (Foto: Marcelo Soubhia/Agência Fotosite)
Desfile da maca Mini Lab (Foto: Marcelo Soubhia/Agência Fotosite)

“Durante a pandemia, começamos a ver as pessoas apenas por meio do olhar. A forma de entender o outro mudou, é mais profunda. E essa edição do SPFW, a primeira com desfiles presenciais depois que a pandemia se instalou, vem com outra energia, com outro olhar. É um recomeço. É como se tudo estivesse sendo feito pela primeira vez”, afirmou. Sim, que seja um aprendizado. E que venham mais Mini Lab e povo da quebrada para abalar as estruturas.

Confira resumo dos desfiles de sábado

Esfér

O último dia do SPFW começou com o desfile da Esfér, de João Viegas, primeira marca de joias a se apresentar no evento. O seu debut foi em junho deste ano, sendo a primeira marca de joias a se apresentar no evento. Minimalismo, shapes geométricos e peças para todos os gêneros marcaram presença, com modelos vestindo looks pretos. Tendo como ponto de partida o esférico, daí o nome da marca.

Baska

O humorista Carlinhos Maia estreou no São Paulo Fashion Week (SPFW) como empresário de moda. Ele também desfilou um dos looks de sua marca Baska. Na passarela, homens e mulheres vestiram looks monocromáticos, incluindo Rafaella Santos, irmã de Neymar, que também desfila pela primeira vez. Carol Ribeiro, Pathy Dejesus, Bárbara Fialho, Renata Kuerten e vários outros famosos entraram na passarela para mostrar as peças monocromáticas em bege, que vestem todas os pesos e alturas.

Projeto Sankofa – Silvério

SPFW (Foto: Rosângela Espinossi)
SPFW (Foto: Rosângela Espinossi)

O estilista Silvério mostrou uma coleção enxuta, com 13 looks que falam do processo de perdão e cura após a descoberta de um câncer ósseo identificado na coluna vertebral. As peças misturavam roupas de sacerdotes (a religiosidade vinda após a notícia da doença), trabalhadas com a alfaiataria em espiral, usando a técnica de viés. Roupas com cortes inusitados, aberturas inesperadas, mesclando também a ideia de gênero contida nas peças. Afinal, porque uma mulher não pode usar um fraque e um homem, uma saia? Tons de marinho, vermelho, vinho, magenta, bege e preto pontuaram a coleção.

Projeto Sankofa – Az Marias

Az Marias (Fotos: Rosângela Espinossi)
Az Marias (Fotos: Rosângela Espinossi)

O corpo real é o mote da marca Az Marias, fundada em 2015 no Rio de Janeiro. Não à toa, a modelo Rita Carreira abriu a apresentação com conjunto de calça comprida e jaqueta curta, deixando peles à mostra. Franjas pontuaram os looks, ora como enfeite ora com tramas.

A marca trabalha com resíduos têxteis transformados em peças para todas as silhuetas. E nesta edição do São Paulo Fashion Week apostou ainda em roupas de náilon coloridas, em tons vivos, como laranja e azul, camisetas unissex alongadas, leggings bicolores, brilho e peças leves.

Projeto Sankofa – Mile Lab

Mile Lab no SPFW (Fotos: Rosângela Espinossi)
Mile Lab no SPFW (Fotos: Rosângela Espinossi)

Mais do que um desfile, um protesto perfeito para o Dia da Consciência Negra. “Os rostos cobertos com camisetas são um escudo para nos proteger do que eles mais querem: usurpar quem somos. A camiseta amarrada no rosto representa a perspectiva da pretitude do nosso povo: suspeito”, falou Milena Lima no final do desfile, que teve funk dançado pelos modelos que vestiam roupas largas, em preto e branco.

A coleção batizada de Fluxo Milenar é fundamentada no afrofuturismo, segundo a estilista,  para falar sobre a celebração da existência dos corpos pretos e marginalizados em um futuro onde a periferia tem suas raízes culturais valorizadas e respeitadas. O recado está dado. E sim, não adianta abrir as portas do evento para, quando acabar, as coisas voltarem ao que eram

Corcel

Pela primeira vez, uma marca de calçados é convidada para participar do SPFW. Na apresentação digital, os lançamentos da Corcel em parceria com a marca italiana Vibram, referência no setor de solados. O resultado é sola robusta e o uso de tecnologia, com inspiração no rock and roll. Também foi apresentada a nova linha de roupa em couro

Fauve

A Fauve fez sua estreia no SPFW com apresentação digital. A mensagem por trás da coleção “il Giardino di Adelaide” é uma volta no tempo e, ao mesmo tempo, um olhar para o futuro. Mostra a simplicidade do pequeno jardim da avó da estilista Clara Pasqualini, que, para ela, era um “universo gigantesco”. As peças vêm em cores neutras e com a cintura marcada em muitas delas.

Angela Brito

Ângela Brito (Foto: Rosângela Espinossi)
Ângela Brito (Foto: Rosângela Espinossi)

A estilista carboverdiana Angela Brito buscou referências na sua história pessoal para criar a coleção Arquivo apresentada nesta sábado (20). “Volta e meia se faz necessário retornar aos lugares em que os olhos não foram capazes de absorver significado. No caminho circular, encontra-se no passado uma brecha para conciliar-se às percepções do presente”, escreveu em seu perfil do Instagram. Esse retorno foi traduzido peças que peças feitas como patchwork de tecidos, estampas e memórias, em que surgiam até fotos da família estampada. Tons terrosos, bege, azul e amarelo pontuaram a coleção delicada e urbana, que conversa com as anteriores e conversará com as próximas, unindo passado e futuro, numa tradução do que é a vida real.

Lucas Leão

O estilista Lucas Leão juntou moda e tecnologia de realidade aumentada, como já tinha mostrado na primeira apresentação em formato digital, em novembro de 2020, para apresentar a coleção “Erebus”, com looks de rendas e plumas criadas de forma digital. O resultado são peças que parecem em 3D.

Depedro

Mais uma grife que fez sua estreia no SPFW. Na versão digital, apresentou a coleção “Inselença”, que tem como objetivo retratar os cânticos de vida e de morte, fazendo referência ao sol, à coragem e à resistência. Dourado, azul-celeste, branco e vermelho dão vida aos looks.

Apartamento 03

SPFW (Fotos: Rosângela Espinossi)
SPFW (Fotos: Rosângela Espinossi)

Com Camilla de Lucas e Ícaro Silva na passarela, a Apartamento 03 exibiu a coleção Cura, como sequência das duas anteriores, mostradas durante a pandemia de forma digital. Não faltaram o branco, como no look de entrada, desfilado pela modelo plus size Rita Carreira, telha e azul-marinho, mas os tons em neon, como o verde-limão e o pink, pontuaram a coleção, numa explosão de cores. A expertise do estilista mineiro em bordados também marcou presença com pedrarias e brilhos em algumas peças. Sobreposições, palha de pano e frases inscritas também pontuaram a coleção.

Bispo dos Anjos

Mangas bufantes, babados, laçarotes, rendas, brilho e transparências compõem a coleção da marca Bispo dos Anjos. Criadas durante a pandemia, as peças são feitas com tecidos antigos e novos e foram pensadas para atender os novos rumos criados com a situação sanitária, ganhando são sem gênero e flertam com o barroco, o romântico, o burlesco.

Renata Buzzo

Musgos, líquens e fungos, que no Ocidente são vistos como apenas “a parte feia do jardim” são revisitados na coleção “Bryophyta Criptogama” , de Renata Buzzo, criando um jardim excêntrico e diferenciado. O resultado é visto em looks monocromáticos, com texturas e volumes que representam essas partes esquecidas dos jardins.

Isaac Silva

O último estilista a se apresentar no Pavilhão das Culturas Brasileiras foi o baiano Isaac Silva, que levou as Cores da Bahia à passarela, cuja principal inspiração é o sol, que estampa grande parte da coleção e também serviu de ilustração para o fundo da passarela. Branco, azuis, laranjas também pontuaram a coleção que também teve como referência os búzios, quiabo, alho e pimentas. Sempre com um pé em sua terra natal, o mote “Acredite no Seu Axé” mais uma vez esteve presente na coleção, que teve como DJ a ex-BBB Lumena Aleluia.

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