O último dia de desfiles no SPFW também marcou a apresentação final das grifes do Projeto Sankofa, criado pelo grupo Pretos na Moda, que estreou na última edição em versão digital. Neste sábado (20), Dia da Consciência Negra, se apresentaram três grifes, de sete que integram a ação: Silvério, Az Marias e Mile Lab. Esta última promoveu um protesto contra a discriminação e racismo que os jovens da periferia sofrem diariamente.
O ator Ícaro Silva, que já tinha desfilado para Meninos Rei, voltou à passarela, agora para a Silvério, usando uma bermuda tipo saia e paletó bicolor com pregas e uma das laterais. A modelo Rita Carreira, uma das vozes que divulga o conceito de Body Positive cruzou a passarela de Az Marias.
E o final da tripla apresentação ficou a cargo da Mile Lab. A marca vem de uma ideia de fazer uma moda marginal da estilista Milena Lima, que já foi camareira no SPFW, e levou a realidade da “quebrada” para a passarela, com jovens de rostos cobertos, manifesto lido no final e os modelos (da periferia) dançando funk.
Silvério
O estilista Silvério mostrou uma coleção enxuta, com 13 looks que falam do processo de perdão e cura após a descoberta de um câncer ósseo identificado na coluna vertebral. As peças misturavam roupas de sacerdotes (a religiosidade vinda após a notícia da doença), trabalhadas com a alfaiataria em espiral, usando a técnica de viés.
Roupas com cortes inusitados, aberturas inesperadas, mesclando também a ideia de gênero contida nas peças. Afinal, porque uma mulher não pode usar um fraque e um homem, uma saia? Tons de marinho, vermelho, vinho, magenta, bege e preto pontuaram a coleção.
Az Marias
O corpo real é o mote da marca Az Marias, fundada em 2015 no Rio de Janeiro. Não à toa, a modelo Rita Carreira abriu a apresentação com conjunto de calça comprida e jaqueta curta, deixando peles à mostra. Franjas pontuaram os looks, ora como enfeite ora com tramas.
A marca trabalha com resíduos têxteis transformados em peças para todas as silhuetas. E nesta edição do São Paulo fashion Week apostou ainda em roupas de náilon coloridas, em tons vivos, como laranja e azul, camisetas unissex alongadas, leggings bicolores, brilho e peças leves.
Mile Lab
Mais do que um desfile, um protesto perfeito para o Dia da Consciência Negra. “Os rostos cobertos com camisetas são um escudo para nos proteger do que eles mais querem: usurpar quem somos. A camiseta amarrada no rosto representa a perspectiva da pretitude do nosso povo: suspeito”, falou Milena Lima no final do desfile, que teve funk dançado pelos modelos que vestiam roupas largas, em preto e branco.
A coleção batizada de Fluxo Milenar é fundamentada no afrofuturismo, segundo a estilista, para falar sobre a celebração da existência dos corpos pretos e marginalizados em um futuro onde a periferia tem suas raízes culturais valorizadas e respeitadas. O recado está dado. E sim, não adianta abrir as portas do evento para, quando acabar, as coisas voltarem ao que eram. Que a lição seja seguida. Que o racismo seja combatido sempre, não só no dia 20 de novembro.