O terceiro dia do 52ª edição do SPFW, com desfiles digitais e presenciais, todos transmitidos pelas redes sociais do evento, mostrou mais uma vez diversidade, com modelos gordos, cadeirantes, idosos, pretos e estreias no evento ao vivo de estilistas que estão há anos na estrada. Um deles, Walério Araújo, que comemora 30 anos de carreira, com vários desfiles na história e pela primeira vez presencial no São Paulo Fashion Week.
Na passarela de Walério, que apresentou o tema “Noite Ilustrada”, o empresário e ator Luciano Szafir finalizou a última apresentação do dia deixando à mostra a bolsa de colostomia que usa desde que passou por cirurgia abdominal em que retirou parte do intestino devido a consequências da Covid-19. A ação faz parte de campanha contra o preconceito a pessoas estomizadas, como ele. Nos bastidores, disse que o procedimento salvou sua vida.
O evento exige já há duas edições 50% de modelos com ascendência afro e indígena, mas também tem aberto espaço para estilistas pretos, como o Projeto Sankofa, que nesta quinta-feira (18), mostrou a moda consistente das jovens marcas baianas Meninos Rei e Ateliê Mão de Mãe. Os desfiles foram marcados por inclusão, com modelos gordos, idosos e até cadeirante na passarela. Confira resumo de cada marca.
Projeto Sankofa – Meninos Rei e Atelier Maõ de Mãe
O Projeto Sankofa, que estreou na edição passada do SPFW, foi criado pelo grupo Pretos na Moda para abrir portas a estilistas pretos se apresentarem no evento. Duas marcas abriam o dia no pavilhão das Culturas Brasileiras, no Ibirapuera. Meninos Rei e Atelier Mão de Mãe mostraram uma roupa consistente, seja com tecidos com estampas africanas e ligação direta com o candomblé, inckusive na passarela, seja com o crochê de primeiríssima linha.
Meninos Rei desfilou a coleção “Salve o Povo de Rua” os estilistas Céu e Junior Rocha apresentaram 17 modelos e levaram os atores Ícaro Silva e Reiner Cadete à passarela, além de Henrique Borges, 16 anos, filho de Paulo Borges, em sua estreia em desfiles. O desfile teve referências ao candomblé e tecidos africanos. Também cadeirantes e gordos desfilaram para a marca.
Maiôs, biquínis, saias, vestidos, calças, casacos, tops em tramas coloridas ou puxadas para os tons terrosos se multiplicavam na passarela do Atelier Mão de Mãe, tendo ao fundo imagens de arrebentação de ondas. Peças masculinas e femininas, para gordas ou magras cruzaram a passarela e provaram que o crochê está cada vez mais em alta como peças sofisticadas, para todas as horas.
Ronaldo Silvestre
Em sua segunda participação no São Paulo Fashion Week, o estilista mineiro Ronaldo Silvestre usou para inspiração de seus looks tudo que seja relacionado ao divino. Como ‘molde’, a maioria em tons terrosos – mas também abusou do amarelo cítrico e laranja -, ele desfilou saias de cintura alta, blusas fluídas, linho, camurça, vestido balonê (moda anos 1990), plissado e muitas franjas. A coleção foi inspirada em trançados, tramados, cestarias e plumagem (inclusive em vestidos). Tudo muito orgânico e usável no dia a dia.
“A manipulação têxtil realizada no Instituto ITI, continua como grande destaque em nosso trabalho, em que eu procuro descobrir a essência e a alma dos tecidos, afinal eles são a nossa segunda pele”, explicou Silvestre.
João Pimenta
Depois de uma apresentação sufocante, com máscaras cobrindo o rosto dos modelos – reflexo da pandemia – e, em seguida, a necessidade de escapismo, com roupas coloridas, ambas em versões digitais, o estilista João Pimenta trouxe uma moda tranquila, confortável, com bom corte e sobreposição em tons de bege, branco, cinza, preto, mas sem exageros para aquele homem moderno, como uma volta à normalidade.
Rocio Canvas
A marca Rocio Canvas apostou no preto básico – a cor mais usada no inverno – para apresentar sua coleção. Criadas pelo estilista Diego Malicheski, as peças fizeram uma releitura das roupas ícones da Rocio, que mantém a essência da marca, mas com a inovação. “A opção por trabalhar a coleção inteira em preto é que ele representa a força da estrutura da roupa para a marca em diferentes texturas e construções”, explica o designer.
Weider Silveiro
O estilista Weider Silveiro trouxe inspiração do rock dos anos 1980 e 1990, em que veio um grunge suavizado, com xadrez, mangas compridas, tricô e malhas em peças que ora vinham mais amplas, ora mais secas. Um pé nos anos 2000 também apareceu com o rosa à la Paris Hilton, personalidade cujo estilo tem marcado tendência atualmente, dentro da tendência Y2K. O inverno 2022 do estilista vem ainda com estampas de flores sobre fundo escuro, a chamada dark flower.
Von Trapp
A grife Von Trapp teve um desfile de estreia na SPFW que abusou da paleta de cores. A coleção Matronae remete às mães e ao feminino. Tendo isso como ponto de partida, as peças são coloridas, ombros marcados, há o uso de lenços, os vestidos têm corte reto. Tudo um caminho forte que leva a moda para a espiritualidade, fator bastante presente na maternidade. O designer Marcelo Von Trapp mostra a vontade de criar de forma tridimensional – foram três grupos, com uma única coisa em comum: o uso de máscaras, que denotam o bem, o mal e o poder.
Walério Araújo
Com Luciano Szafir na passarela e Sasha na plateia, Walério Araújo mostrou a coleção “Noite Ilustrada”, nome em homenagem à coluna da jornalista Erika Palomino, na Folha de São Paulo, que mostrava as personagens que movimentava noite paulistana, incluindo o próprio estilista, no começo dos anos 1990.
Para isso, não se furtou a desfilar o que sabe fazer tão bem: bordados, incluindo vestido todo com pérolas aplicadas, brilhos, e outros que formavam o W de seu nome. O estilista customizou peças a partir de seu próprio acervo, incluindo roupas vintage de grifes internacionais, como Lanvin e Versace, que ganharam aplicações e os trabalhos feitos à mão.
ÀLG
Tendo como base a ideia de ‘uma moda para todos’, a ÀLG trouxe o colorido das peças esportivas para a passarela. Peças oversized, com composições impensáveis e transparências, o look da grife é tudo que um jovem gosta. ‘Reproduzimos os best sellers da marca neste tecido transparente de alta tecnologia e que originalmente era destinado a calçados, fizemos mudanças na trama e na maciez para que pudesse ser vestível. Além da transparência, o material permite a troca de ar interno e externo quando vestido. Tênis Manobra desenvolvido em parceria com Olympikus completa todos os looks”, explica o estilista Alexandre Herchcovitch.
Ellus
A Ellus deu início às comemorações dos 50 anos da grife. Para tanto, mantêm-se o espírito urbano com o uso de puffer jackets, jaquetas biker de couro, coturnos e calças utilitárias. Os clássicos foram atualizados com novidades no jeanswear. “As peças de denim são as mais especiais da coleção; são itens que possuem grande valor agregado, feitos em tecidos de alta qualidade, tecnologia e com diversos processos de lavanderia, essenciais para a produção de um jeans premium”. As costuras são marcadas e o jeans parece lavado. Os tons são terrosos e o verde, mais próximo do militar.
Para compor os looks, aparecem os coturnos, bolsas de couro e náilon – com correntes – que lembram o estilo rock´n´roll tradicional da Ellus.