O Projeto Sankofa, ação do movimento Pretos na Moda para valorizar estilistas negros, levou a passarela do SPFW a estreia presencial de duas grifes comandadas por mulheres negras. A Santa Resistência, de Mônica Sampaio, que vem de uma família do Recôncavo Baiano, e Naya Violeta, de Goiás.
Ambas mostraram coleções coloridas, vibrantes e recheadas de religiosidade, mostrando a força e a fé das mulheres pretas na moda. Na semana em que se celebra o Dia da Consciência Negra no Brasil, a energia do candomblé e da fé traz uma moda alegre, colorida, com looks que dão vontade de sair usando agora.
Santa Resistência
Ao som dos tambores do grupo de percussão Afrodescendentes, projeto social da cidade de São Felix, a estilista, levou 17 looks femininos à passarela que seguem o DNA da marca. Mônica Sampaio se inspirou nos saberes e na história das mulheres do Recôncavo para falar de mulheres guerreiras que, por dois séculos, mantêm a fé e a força. “Mulheres pretas, que amam, trabalham, resistem e encantam”, afirmou o material de divulgação.
Monica trabalhou duas décadas como engenheira eletricista e, aos 45 anos, resolveu criar a marca exatamente com o propósito de enaltecer a estética afrobrasileira. O resultado da apresentação foi um mix de cores fortes, degradês que reproduzem o pôr-do-sol, verdes, azul-royal e laranja, chegando ao final com o amarelo sendo diluído até chegar ao branco. O desfile contou ainda com biojoias da Cerra D’Ouro, com embalsamento de flores, folhas e sementes naturais recolhidas no chão. O fuxico também enfeitou alguns dos 17 looks. Tudo regido com a religiosidade ancestral africana que se espalhou pela região há séculos.
Naya Violeta
Primeira estilista de Goiás a desfilar no SPFW, Naya Violeta também impregnou de religiosidade e cores sua coleção, que veste homens e mulheres, de todas a silhuetas, pesos e alturas: “Encante – do Amém ao Axé”, numa leitura moderna do country. Para isso, apostou em estamparia vibrante em cores e volumes em peças confortáveis e despojadas.
Modelos, pessoas mais velhas e personalidades pretas da música, como Mel (ex-Banda Uó) e a rapper Janine Mathias, além da cantora e poeta marginal Bixarte e o influencer Pedro Cruz (Batekko) cruzaram a passarela, alguns dublando suas próprias composições, numa apresentação pulsante, que mistura texturas, estampas e balangandãs.