Profissionais ligados à moda comentaram sobre conversa da modelo Dayane Mello com o sertanejo Tiago Piquilo, no reality “A Fazenda” em que ela fala que não pode tomar sol para não ficar “morena” e que para exercer o trabalho de modelo “tem que ser branquinha”, uma “beleza um pouco mais elegante”. O cantor ficou surpreso com a revelação “É mesmo?”.
O comentário foi considerado “preconceituoso” e “erradíssimo” por profissionais da indústria fashion, como estilistas e donos de agência. Mas, de acordo com a modelo negra e plus size Dani Rudz, a fala reflete o que se aprende dentro do mundo da moda.
“Tu sabe que eu não posso ficar muito morena por conta do meu trabalho, né?”. O sertanejo disse que não sabia disso e a questionou: “Não?”. Ela continuou: “Não, tem que ser branquinha”, afirmou a modelo. E continuou: “As campanhas não querem muito morena, querem uma beleza um pouco mais elegante do que muito…sabe?…morena (disse baixinho)”, ao concluir. “Não posso pegar muito sol. As marcas as vezes não querem”, concluiu.
“Pensamento preconceituoso”
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O estilista Amir Slama disse ao “Elas no Tapete Vermelho” que a acredita que a modelo deve estar há tempos afastada do trabalho. “Isso é coisa muito antiga, não tem e nunca teve nada a ver. Se a gente olhar as campanhas e os desfiles, não existe essa questão de ser branquinha. É uma pensamento muito preconceituoso”, disse. Na foto, a modelo Emanuela de Paula em desfile antigo de Amir Slama.
“Racismo existe, é forte, enraizado, estruturado”
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A modelo e empresária Dani Rudz (foto acima), negra e plus size, afirma porém que esse pensamento ainda reflete o que se vê no mundo fashion: “A fala da modelo Dayane Mello no programa “A Fazenda 13ª edição’, deixa claro o que nós negros temos falado incansavelmente. O racismo existe, é forte, enraizado, estruturado. Passamos por situações excludentes diariamente, sem falhar”, apontou.
“A indústria da moda, principalmente, seleciona quem pode e quem não pode estar ali, e ensina aos envolvidos que praticar o racismo é aceitável. A modelo reproduz o que ela apreendeu dentro do mercado de moda. Está aí e é escancarado. E a luta é árdua.
O que é mais difícil de engolir é que, em pleno século 21, com tanta informação sobre racismo, uma figura pública, aceite e perpetue essa pauta. No discurso, no gestual, no comportamental. É cruel associar a cor da pele de alguém com falta de elegância. Comentários duvidosos, sussurros ao falar a palavra “morena”, caretas, desconforto. Fica claro a exaltação à pele branca e que ela não discorda desse posicionamento. Racismo claro na minha opinião. Devemos e precisamos explorar esse assunto como forma de educar”, finalizou Dani Rudz.
“Menos foco nos padrões”
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“O mercado da moda reflete o comportamento da sociedade, e hoje felizmente temos uma demanda efetiva por diversidade, que não comporta mais antigos padrões nem exclusões.
Pensar em beleza hoje em dia significa representar todo biótipo e abraçar a pluralidade humana. Por isso, é tão importante perpetuar pensamentos e ideais inclusivos, refutar padrões e representar a beleza em suas mais diversas formas. Menos foco em padrões e mais foco na personalidade é o caminho necessário”, afirmou Liliana Gomes, empresária de top models, diretora da JOY model, que tem entre seu casting a top Lais Ribeiro (foto acima).
Erradíssima
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O estilista Arnaldo Ventura, dono da marca Eivi disse que ela está “erradíssima”. “A fala vai contra tudo o que a moda pede atualmente. A cor da pele não impede ninguém de trabalhar como modelo”, disse Arnaldo, que sempre fez questão de colocar modelos de várias raças e tons de pele em seus desfiles e catálogos. Na foto acima, foto da campanha da coleção de 2020.
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“Antigamente, eu só não colocava mais negras porque as agências não tinham muitas modelos em seus castings. Hoje isso mudou muito”, concluiu. Na foto, campanha para a coleção verão 2022 da Eivi.