SPFW: Frida, moda sustentável e sem gênero marcam 2º dia

O segundo dia da 51ª edição do SPFW provou que sustentabilidade, moda sem gênero e reuso de tecidos são tendências que vieram para ficar. Seja por conta da pandemia seja porque o caminho que o mundo pede é esse mesmo, e que vai ao encontro do tema do evento SPFW+ Regeneração, as 9 marcas que se apresentaram vieram com esse viés, trazendo peças largas, confortáveis e com muitas estampas ou cores fortes.

Triya (Foto: Divulgação/SPFW)
Triya (Foto: Divulgação/SPFW)

Na moda praia, a Triya se inspirou na artista mexicana Frida Khalo, com suas cores, frases e estampas originais enfeitando as peças. Isabela Capeto apresentou vestidos para danças, largos e confortáveis, conceito que apareceu em várias outros filmes fashion. E as marcas do projeto Sankofa, com jovens estilistas negros, apostaram nas raízes africanas, com suas cores, formas e estilo. Mas o foco de todas as grifes é mesmo fazer roupas para todos, independentemente de orientação sexual, raça e silhueta.

Sem fazer uma coleção política e abrindo a grade também para os homens, o estilista André Boffano, da Modem, na entrevista após o desfile fez uma desabafo politico. “Em tempos de pandemia é um ato revolucionário no Brasil. Somos sobreviventes. E depois dessa tempestade toda, com esse governo genocida, tem que haver um arco-íris”, disse, lembrando que mostrou uma de suas coleções mais coloridas até agora.

Confira os trabalhos

 

Igor Dadona

Igor Dadona (Foto: Land e Hugo/Divulgação)
Igor Dadona (Foto: Land e Hugo/Divulgação)

A segunda noite do SPFW, edição 51, começou com o fashion filme do estreante Igor Dadona, em preto e branco, em que coloca a estética navy numa alusão à saúde mental, com uma apresentação teatral em que um único modelo oriental encena momentos de dentro de um sonho. Com cenário de papelão, feito à mão pelo artista plástico Edgard de Camargo, o filme da coleção Marítimo traz elementos como xícara, barco, tempestade, bandeira e terra à vista.

Lúdico e sensível, o estilista mostrou seu consistente trabalho em alfaiataria masculina revisitada em looks com maxiestampas xadrez, poás, flores e ainda peças lisas, como jaquetas, ternos, camisas e calças. O exagero faz parte do sonho pandêmico de Igor, que confessou ter saído apenas duas vezes de casa desde março do ano passado.

A modelagem ampla confere conforto, mas não tira a sofisticação dos looks, que são complementados com bordados e acessórios bem competentes. Uma apresentação teatralizada, mas usável por todos os sexos, mesmo que sua grife seja masculina.

Confira a apresentação de Igor Dardona

Ronaldo Silvestre

Ronaldo Silvestre (Foto: Divulgação)
Ronaldo Silvestre (Foto: Divulgação)

O estilista mineiro Ronaldo Silvestre apresentou um filme feito na Fazendo do Pontal, em Minas. A coleção chamada Conspiração, toruxe vários macacões cargo, alguns mais curtos, vestidos largos, trabalhos com pregas em estilo de casinha de abelha maximizada.

Uma moda masculina e feminina leve, confortável e pronta para os dias atuais, em que a reutilização de tecidos vem em forma de bordados florais feitos de retalhos e reaplicados sobre outros tecidos como tule e jeans, enfeitando jaquetas, calças, vestidos para eles e para elas. “Vim de origem pobre. Minha mãe reformava uniformes transformando em roupas para mim. Na faculdade, eu também usava retalhos das tecelagens. Entçao, essa reutilização faz parte da minha vivência”, afirmou o estilista. Uma coleção moderna e extremamente desejável.

Confira a apresentação de Ronaldo Sivestre

Projeto Sankofa – AZ Marias

AZ Marias (Foto: Divulgação)
AZ Marias (Foto: Divulgação)

Dentro do projeto Sankofa, do movimento Pretos na Moda, a marca AZ Marias, traz referências africanas e inspiração na rainha Nzinga a Mbande, do Ndongo e do Matamba (hoje conhecida como Angola), lutou por quatro décadas contra a ocupação europeia na região e se tornou um símbolo de resistência ao colonialismo português no século 17. O resultado veio em estampas poderosas dentro do conceito de criar roupas sustentáveis em esquema de slow fashion.

O corpo real é o mote da marca fundada em 2015 no Rio de Janeiro. E as mulheres do filme mostravam sim corpos reais, em looks de streetstyle e descontraídos. Vale a pena acompanhar a marca que trabalha com resíduos têxteis transformados em peças para todas as silhuetas.

Confira a apresentação da AZ Marias

Sankofa – Naya Violeta

Naya Violeta (Foto: Divulgação)
Naya Violeta (Foto: Divulgação)

A estilista goiana Naya Violeta, do Projeto Sankofa, que traz um coletivo de estilistas negros, exaltou Xangô em sua coleção “Foguete”, com claras referências africanas, em tons avermelhados e com estampas delicadas, assinadas por Dani Guirra.

Mais uma vez, looks agêneros foram apresentados, com pegada esportiva, mas bem feita. Destaque para os acessórios dourados, que conferem força e poder tanto às mulheres quanto aos homens. A exaltação da ancestralidade na apresentação caminha junto com a vontade de abrir caminhos, para um futuro em que negros sejam cada vez mais inseridos na sociedade, sem preconceito. Que assim seja.

As cores terrosas, os festejos da Folia de Reis, as roupas extravagantes da Yes, Brasil que o pai ostentava nos anos 90… São a essas referências que Naya soma o candomblé, o axé e todas as visualidades e essências que descobre mundo afora.

 “Em Foguete a gente fala do poder de transformação que é o lugar do fogo. O fogo que aquece, que transforma. Há o clarão que o foguete traz, o clarão que é olhar para o fogo, o clarão de estar vivo. Nesse momento histórico e social de extrema dificuldade que estamos vivendo, essa coleção tenta nos ajudar a entender a potência de corpos negros reexistirem e de olhar para estes corpos vivos”, explica a estilista.

Confira a apresentação da Naya Violeta aqui

Isabela Capeto

Isabela Capeto (Foto: Divulgação/SPFW)
Isabela Capeto (Foto: Divulgação/SPFW)

A coleção “Pancs”, que significa ‘Plantas Alimentícias Não Convencionais’, foi o mote da coleção da estilista carioca Isabela Capeto, que ilustrou as roupas com seus já conhecidos bordados, que misturam miçangas, paetês e renda richelieu, agora transformados em frutas, como bananas e uvas delicadas e mamões enormes.

A estilista colocou duas modelos negras numa escadaria em meio a um jardim, com looks que também vinham com bordados e pinturas de flores grandes sobre os tecidos. Destaque para a leveza das peças, especialmente os vestidos amplos, segundo Isabela, feitos “para dançar, para ocupar lugares”, nas palavras dela, que sempre traz um trabalho delicado e sensível.

O filme começa com um close de uma das modelos ostentando uma make natural e black, assinada por Max Weber, com olhos que ganham perfume anos 70, acompanhando o cabelo black power. Looks para usar em casa, na cidade ou apenas para dançar. Leveza é o que a gente busca nestes tempos tão pesados. E Isabela trouxe isso da cabeça aos pés.

Confira a apresentação da Isabela Capeto aqui

Martins

Martins (Foto: Divulgação/SPFW)
Martins (Foto: Divulgação/SPFW)

Tom Martins subverte o conceito de grade numérica de roupas, de looks para homens e mulheres e não está nem aí para a mistura de estampas poderosas. A coleção mescloui várias referências, que possam por Courtney Love e seu estilo uniforme de escola que marcou o anos 1990, o pintor Henri Matisse em algumas estampas e na cartela de cores, além do filme Laranja Mecânica e em gatos, especialmente em algumas das estampas.

Aliás, xadrezes variados, botânicos, animal print, tie dye apareciam misturados, como patchwork de desenhos em looks amplos, para todas as silhuetas. Reúso de tecidos, uma tônica desta edição do SPFW, também faz parte da coleção.

O destaque vai também para as unhas superdecoradas, inspiradas nas cantora pop espanhola Rosalía. Na make, referências da série Eufhoria. “Sou uma esponja, tudo o que vou vendo vou assimilando e colocando nas roupas”, afirmou o estilista.

Confira a coleção da Martins aqui

Modem

Modem (Divulgação/SPFW)
Modem (Divulgação/SPFW)

“Em tempos de pandemia é um ato revolucionário no Brasil. Somos sobreviventes. E depois dessa tempestade toda, com esse governo genocida, tem que ter um arco-íris”, disse o estilista André Boffano, após a apresentação da coleção de sua marca Modem, que pela primeira vez colocou modelos masculinos.

Dentro da tendência de peças sem gênero, o criador mineiro apostou roupas para todos os sexos, em cores fortes, que juntas, na arara, remetem a cores do arco-íris, uma das mais amplas cartelas já apresentadas pela marca, que se define organic clean, flertando com o minimalismo.

O estilo limpo da Modem, que sempre tem referência na arte e na arquitetura foi apresentado no espaço cultural OLHÃO Barra Funda e a fundadora Cléo Döbberthin, que teve participação especial no vídeo. Uma coleção linda, limpa, mas sempre confortável.

Confira a coleção da Modem aqui

Triya

Triya (Foto: Divulgação/SPFW)
Triya (Foto: Divulgação/SPFW)

A coleção “Amar é para os fortes”, da marca de moda praia Triya, se inspirou na pintora mexicana Frida Khalo, com estampas oficiais da artista. Com narração de Astrid Fontenelli, frases de Frida, algumas estampadas nas peças. “Pés para que se tenho asas para voar” é uma das frases que apareceram no filme gravado na praia de Laranjeiras, perto de Paraty.

A marca está se adaptando à nova realidade e fazendo peças para todos os corpos, inclusive tamanhos maiores e para homens. Tops com babados, calcinhas mais altas, saídas e vestidos amplos vinham em tons fortes, como roxo, laranja, rosa e vermelho.

Claro que na make, criada por Max Weber, as sobrancelhas viram marcadas, o cabelo preso em trança no alto da cabeça e batons rosa.

Confira a coleção da Triya aqui


Another Place

A marca Another Place nasceu como sem gênero e continua assim, com uma estética apurada, que pode ser vista no filme fashion que encerrou o segundo dia do SPFW. Lembrando um ar clubber e disco, a marca apostou em basicamente 2 cores na coleção batizada de Unlock: preto e verde-claro, algumas com estampas orgânicas nos dois tons.

As peças usadas por modelos de todos os sexos vinham principalmente mais justas, mas também faltaram moletons mais amplos. A jaqueta perfecto, aquela de motoqueiros, foi revisitada e surgiu em no verde vivo, em conjunto com shorts usado por uma mulher e também por um homem, esse sem manga e sobre uma legging preta. Aliás, leggings e meias estampadas para todos também fizeram parte da coleção, assim como macacões justos e com recortes.

Confira a apresentação da Another Place aqui

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