BBB: “Quando aceitei meu cabelo, me aceitei”, diz top negra

“Não tem como falar que não me doeu, como doeu na Camilla, como doeu no João”, assim a modelo negra Lorenna Adrian, 22 anos, natural do Complexo da Maré, no Rio, começa seu depoimento no vídeo que gravou com exclusividade ao “Elas no Tapete Vermelho”, repercutindo a dita “brincadeira” que Rodolffo, eliminado esta semana do BBB 21, fez em relação ao cabelo crespo do professor João Luiz, participante do reality da Globo.

Lorenna Adrian cabelo crespo (Foto: Reprodução/Instagram
Lorenna Adrian (Foto: Reprodução/Instagram/@lorennaadrian)

“Dia após dia, a gente luta e resiste a este tipo de brincadeiras ditas não intencionais. Comparar uma fantasia com algo real, comparar uma peruca, bagunçada, suja, com um cabelo tratado, com um cabelo de luta, de resistência, com um cabelo que luta pra conseguir seu lugar, não é brincadeira”, acrescenta.

O assunto realmente não deve ser esquecido. O discurso de Tiago Leifert antes de anunciar a eliminação do sertanejo, tocou em vários pontos cruciais, incluindo o fato de que se uma pessoa branca com cabelo crespo não sofre tanto preconceito com os negros. Veja algumas frases e situações que Lorenna, descoberta no concurso The Look Of The Year, em 2018 e agenciada pela Joy Model, conta sobre sua relação com os cabelos, e assista o vídeo completo aqui.

“O que o João fez também não foi mimimi. O João sofre isso desde quando nasceu só por ser negro”.

“Na minha infância, não aceitava meu cabelo, eu odiava meu cabelo. Eu não fazia questão de saber como era meu cabelo (…). Eu não aceitava, eu não me via. Não era eu não estar com o cabelo alisado. Pra onde eu ia, meu cabelo estava liso. Praia, piscina nem pensar. Como vou mergulhar e vão descobrir que meu cabelo não é liso natural.

“Eu não me aceitava, não aceitava meu cabelo. Faz mais ou menos 3 anos que eu decidi e me submeti ao big chop (corte radical para iniciar a transição capilar), a cortar a química do meu cabelo e a aceitá-lo como realmente era. Quando aceitei meu cabelo, eu me aceitei e empoderei”, afirmou ela, que já desfilou para grifes internacionais como Armani e foi destaque no São Paulo Fashion Week.

“Luto dia a dia. Vejo a forma como os outros olham, a forma como os outros acham que podem dar palpite: ‘Ah, mas seu cabelo liso era melhor. Nossa, a forma como você penteia não é legal. Nossa, seu cabelo é muito volumoso’.”

“Acho que a gente tem que dar um basta nessas brincadeiras. O racismo precisa acabar. O racismo estrutural precisa ter um fim ou essas brincadeiras sempre serão ditas como brincadeiras. E nossa dor nunca vai ser entendida. Nunca vai ser compreendida. E nunca vai ser importante pro outro.”

“O meu cabelo sou eu. Eu amo meu cabelo hoje, eu me amo, eu me aceito. O meu cabelo, o meu black é minha coroa, meu símbolo, minha luta.”

“Hoje eu me aceito, mas sei que muitas outras pessoas não se aceitam. Não têm coragem de se aceitar, porque a nossa sociedade é estruturada nisso: o cabelo liso é bonito, é dito como tratado. Mas o crespo, o black é sujo e maltratado, malcuidado, malvisto, mal interpretado.  Por quê?”

 

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