“Emily em Paris”: um passeio pelo Instagram em formato de série

Quando uma série ou filme mistura roupas de grife e uma cidade sonho de consumo para quem ama moda, um alarme começa a disparar no mundo fashion. É exatamente isso que tem acontecido com a comentada “Emily em Paris”, com Lily Collins no papel-título, uma produção original Netflix. As comparações com “Sexy in The City” e com o filme “O Diabo Veste Prada” são inevitáveis. Até porque há muito pontos em comuns entre elas. A figurinista, por exemplo, é a mesma das três produções: Patricia Field. O criador da série Darren Star é o mesmo de “Sex in the City”.

"Emily em Paris" (Foto: Reprodução/IMDB)
“Emily em Paris” (Foto: Reprodução/IMDB)

Ou seja, não dá para não comparar. E dá também para acrescentar outras produções em que a moda é protagonista. Propositalmente ou não, na primeira cena,  Emily aparece correndo com uma jaqueta da Nike, com o famoso xadrez tartã amarelo, um dos looks mais marcantes de Cher, protagonista de “As Patricinhas de Beverly Hills”, filme-fashion-adolescente que marcou os anos 1990, cuja protagonista foi vivida por Alicia Silverstone, no filme de 1995.

Há incongruências, estereótipos e clichês por toda a parte de “Emily”, cuja personagem já foi até lembrada como uma possível filha de Carrie Bradshow com o Sr Big. Mas coitada da personagem vivida por Sarah Jéssica Parker no virada dos anos 1990 e 2000. Não merecia ter uma filha tão bobinha. Ou talvez tenha herdado apenas o gosto por roupas de grife da mãe. E como toda unanimidade é burra, teve  gente que detestou, teve que amou.

"Emily em Paris": chapéu bucket e casaco Chanel (Foto: Reprodução/IMDB)
“Emily em Paris”: chapéu bucket e casaco Chanel (Foto: Reprodução/IMDB)

Trata-se do retrato mais fútil da geração millennial, daquelas que acham que a vida é representada apenas pelo que se vê nas postagens do Instagram. Aquelas que se baseiam nas influenciadoras que se produzem toda para tirar fotos nas portas dos desfiles de moda, sem ao menos conhecer um pouco da história daquele estilista. Sim, isso existe. Aquelas que mostram a vida como se fosse sempre uma cena de filme açucarado e luxuoso. Antes de continuar, vai um parêntese: nem todos os millenniais são assim, eu sei. E nem tudo o que é postado no Instagram é fake. É só a gente saber enxergar isso. Aliás, transmitir autenticidade nas redes sociais é mais do que necessário. Aquele velho ditado que “mentira tem perna curta” é a pura verdade.

As cenas de “Emily” mesclam os cartões-postais de Paris, como o Palais Royal, o Opera, a Torre Eiffel, a Place Vendôme, o Jardim de Luxemburgo e por aí vai. São cenários que 99% dos turistas e das influenciadoras que flanam por Paris escolhem para suas fotos. E, em todas as fotos, em todas as cenas, uma roupa diferente, com muito Chanel, Dior, Burberry, Vivienne Westwood, Off-White, Christian Siriano, Christian Louboutin, Alice + Olivia e por aí vai.

"Emily em Paris" com camisa estampa da marca Alice + Olivia (Foto: Reprodução/IMDB)
“Emily em Paris” com camisa estampa da marca Alice + Olivia (Foto: Reprodução/IMDB)

Claro que uma série não precisa, necessariamente, ter elo com a realidade. Afinal, trata-se de ficção. Assim como são ficções muitas das postagens das influenciadoras em suas contas nas redes sociais, que falam, mostram e dizem que vivem uma vida, mas no fundo, é tudo de mentirinha. Uma vitrine para gerar vendas para as marcas que as bancam.

Para começar a série de clichês, Emily chega a Paris, direto de Chicago, com emprego numa agência que representa marcas de luxo, sem falar nada de francês; anda por Paris com saltos altíssimos sobre seus paralelepípedos sem problema algum; mora num apartamento mínimo, mas tem tanta roupa que não caberia lá; conhece homens lindos e todos se apaixonam por ela… ufa. Seria ótimo viver assim, principalmente aos 20 e poucos anos. Mas a gente sabe que a vida é real e de viés.

"Emily em Paris" (Foto: Reprodução/IMDB)
“Emily em Paris” (Foto: Reprodução/IMDB)

De qualquer forma, não custa nada passar menos de 30 minutos vendo um capítulo, com produções de babar,  tendo como cenário Paris, né minha filha? A série é bobinha mesmo, porque nada dá errado para Emily, mesmo nas situações mais absurdas. Em tempos de pandemia, porém, até vale dar uma fugidinha para Paris, nem que seja na tela da Netflix.

Emily com vestido Christian Siriano: referência a Audrey Hepburn (Fotos: Reprodução)
Emily com vestido Christian Siriano: referência a Audrey Hepburn (: Reprodução)

E para quem ama moda, ver os looks que são tendências atuais, como as várias peças xadrezes, os chapéus tipo bucket (aquele que lembra os de pescadores), as botas brancas, as misturas de texturas e estampas. Tudo isso, sem falar nas referências a looks de outras personagens, como as saias de tule de Carrie Bradshow, além do vestido preto com o qual vai assistir a um balé no Opera, referência direta a Audrey Hepburn, em “Cinderela em Paris”.

 

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Faz de conta que você está navegando pelo Instagram dessas influenciadoras que dão inveja em qualquer mortal, mas as imagens aparecem em formato de série. E, sim, existe também uma conta no instagram chamada “Emily in Paris”… mas a Vivi Guedes, personagem de Paolla Oliveira em “A Dona do Pedaço”, já havia feito essa convergência entre as mídias de forma mais assertiva. Assim, se quiser não pensar em nada, para fugir da realidade pandêmica atual, assista “Emily em Paris”, mas não queira ter um papo cabeça depois, ok. Divirta-se e distraia-se. E pronto.

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