Recado dado: Melania Trump não veio para ser uma Michelle Obama

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Melania Trump e seus três looks de posse – Fotos: Reprodução/Instagram

 

Por Rosângela Espinossi

O recado foi dado. A eslovena Melania Trump, nova primeira-dama dos Estados Unidos, não veio para quebrar paradigmas, nem na função recém-empossada nem na moda. Ao olhar para o passado, para 56 anos atrás, inspirando-se na mais fashion e icônica first-lady americana, Jackie Kennedy, Melania apontou seu caminho para os próximos quatro anos: manter-se como um apêndice do marido Donald Trump. Não se sabe ainda como ela vai atuar no seu “novo cargo”, mas o fato de querer continuar morando no luxuoso apartamento da Trump Tower, na 5ª Avenida, em Nova York, é um indicativo de não querer se envolver em política. Espero estar errada. Mas caso se envolva, que não sejam em projetos retrógrados.

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Melania Trump e Jackie Kennedy na posse de seus maridos – Fotos: Reprodução/Instagram

Melania já foi modelo e se tornou a segunda estrangeira a ocupar a função de primeira-dama dos Estados Unidos desde a inglesa Louisa Adams (mulher de John Quincy Adams, que foi presidente de 1825 a 1829). O vestido com casaco cropped, mangas três quartos e luvas levou os meios de comunicação a buscar e comparar as fotos de Jacqueline durante a posse de seu marido, em 1961, o democrata John Kennedy. Luvas, gola fechada, tom azul-claro… Todas referências ao look de Jackie.

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Foto: Reprodução/Instagram

Delicada, dócil, bonita. É essa a imagem que talvez quis passar a Melania. Ao contrário do que mostrou a determinada MIchelle Obama, advogada, que já foi chefe e ganhou bem mais de que seu marido Barack Obama, quando este estava em começo de carreira. Michelle sempre trabalhou seus looks como uma mensagem, seja incentivando a indústria fashion americana, seja apontando um empoderamento feminino ou se isentando de preconceitos ou xenofobismo. Nas posses dos dois mandatos do marido, provou isso. Na primeira, um conjunto de vestido e casaco verde-lima, da estilista de origem cubana Izabel Toledo. Na segunda, casaco xadrez, inspirado nos desenhos de gravatas masculinas, de Thom Bowrne, botas Reed Krakoff e cinto da rede de lojas fast-fashion J.Crew.

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Foto: Reprodução/Instagram

O vestido Narciso Rodriguez, que usou para recepcionar sua substituta, é outra prova de como Michelle trabalha com seus looks para mandar uma mensagem.  Avermelhado, de tweed, que depois recebeu um casaco, é levemente evasê e, apesar de linha aparentemente simples, revela pujança e força, ao contrário do delicado azul-bebê de Melania, assinado por Ralph Lauren, um dos que não participam do boicote implementado pelos estilistas americanos à nova primeira-dama por conta das ideias xenófobas e claramente de direita do atual presidente.

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MIchelle, Jackie e Melania: branco total – Fotos: Reprodução/Instagram

Só lembrando que o tom pastel usado por Jackie Kennedy há 56 anos fazia parte da cartela de cores da época, assim como os tailleurs entraram na moda, após a estilista Coco Chanel reabrir sua maison, em 1954, fechada desde 1939, quando a Segunda Guerra começou. Jacqueline usou várias e várias marcas, mas seu estilista preferido era Oleg Cassini, morto em 2006, que assinou o conjuntinho da posse. O branco parece dominar a escolha do vestidos das primeiras-damas para os tradicionais bailes na noite da posse. Michelle Obama escolheu um modelo na cor, para o primeiro baile de 2009, assinado por Jason Wu, de origem oriental.

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Vermelho na segunda posse de Obama – Foto: Reprodução/Instagram

Para o baile de 2013, Michelle rompeu a “tradição” e foi com um vermelho aceso também de Jason Wu, com decote em V nas costas e valorização dos ombros.

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Vestido para o baile de posse de John Kennedy, sem a capa – Foto: Reprodução

Jacqueline Kennedy, também escolheu uma peça branca, que ajudou a criar, ao lado de Emeric Partos e Ethel Frankau, do departamento de moda da Bergdorf Goodman. A editora de moda Diana Vreeland trabalhou junto com Jackie na elaboração da peça: um vestido com dorso bordado, velado com chiffon georgette. E por cima, uma capa reta, sem mangas, estilo pelerine comprido. E, claro, luvas. Lembrando que é inverno no Hemisfério Norte.

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Vestido branco assinado pelo francês Pierre Hervé – Foto: Reprodução/Instagram

Melania Trump apostou também num vestido branco, de linhas retas, cinto fino e fenda até o meio das coxas, para o Baile Liberty, oferecido pelas Forças Armadas, em que dançaram “My Way”, clássica música gravada por Frank Sinatra em 1968, após versão feita por Paul Anka da francesa “Comme D´Habitute”, de Claude François, lançada um ano antes. A peça de crepe, tipo coluna, foi criada pelo estilista francês Pierre Hervé, que mora desde 1995 nos Estados Unidos, onde trabalhou em grifes como Oscar de la Renta, Vera Wang e Carolina Herrera, nesta por 14 anos, até o ano passado.

“É uma honra vestir a primeira-dama. Eu tive sorte, porque ao longo de meus 20 anos nos Estados Unidos, vesti todas as primeiras-damas do país. Sinto-me afortunado e honrado em vestir Melania Trump, desta vez sob meu nome”, afirmou o francês ao site WWD, distante da polêmica criada por estilistas americanos, como Marc Jacobs, Sophie Thealet e Tom Ford. “Não tenho qualquer interesse em vestir Melania Trump. Prefiro canalizar a minha energia para ajudar aqueles que serão afetados pela vitória de Trump e os seus seguidores”, afirmou Jacobs. Pierre Hervé se mantém também longe da polêmica virtual. Seu Instagram oficial foi criado algumas horas depois que Melania apareceu vestindo sua criação. A primeira foto é exatamente do casal no baile de gala.

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Modelo justo e dourado de Reem Acra – Foto: Reprodução/Instagram

O segundo vestido de gala da noite foi usado num jantar oferecido aos doadores da campanha de Trump. O modelo coluna dourado, levemente mais amplo na barra, é assinado pela estilista libanesa Reem Acra, presença marcante em vários tapetes vermelhos. A peça marca o corpo de Melania, que tem 46 anos, e silhueta de fazer inveja. Mais um recado dado: o presidente exibe ao seu lado uma mulher linda, com corpo escultural, 36 anos mais nova que ele. Um típico esterótipo masculino, para mostrar suas virtudes de macho.

No Instagram da marca, as comentários se dividiam entre o fato de a marca vestir a esposa de um presidente como Trump. “Enquanto parece deslumbrante, esta mulher representa uma presidência de fanatismo, xenofobia, racismo e sexismo extremo”, afirmou um dos internautas. “Você é o tipo das pessoas que fazem este mundo feio. O vestido é tudo que o tem para mostrar, provavelmente nem sabe quem fez isso”, afirmou outro.

Houve quem saiu em defesa da estilista e de Melania. “Vejo metade de vocês odiar o designer por causa de um cliente, sem sequer poder pagar uma manga de vestido. Parem de agir como se fossem relevante para a marca. Seu boicote não vai afetá-la. É um belo vestido, como sempre uma obra de arte”, reagiu outro. “Sou um grande fã de Melania Trump. Ela não é uma política e não vai ser. Apenas vai representar a sua posição.” O modelo azul usado pela manhã por Melania parece confirmar a ideia deste último internauta. É esperar para ver. 

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