Ronaldo Fragra transgride mais uma vez e desfila só com modelos transgêneros

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Desfile do Ronaldo Fraga no SPFW (Fotos: AgNews)

 
Por Rosângela Espinossi
O estilista Ronaldo Fraga fez mais uma vez um desfile emocionante. Depois de falar do amor na penúltima temporada, colocar refugiados na última, agora criou uma apresentação apenas com modelos transgêneros, entre eles, a atriz Carol Marra e Valentina Sampaio, da L’Oréal Paris. O local foi escolhido a dedo, o Theatro São Pedro, no Bairro Santa Cecília, região central de São Paulo que agrega vários travestis. A coleção teve apenas um modelo de vestido, como o estilista enfatizou no áudio antes do desfile. “O diferente é quem veste essas roupas”, afirmou.
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Convite (Foto: Rosângela Espinossi)

 
No próprio convite do desfile, a ideia de gêneros vinha invertida.
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Fotos: AgNews

No discurso, Ronaldo lembra que o tema “El Dia Que me Quieras” não se refere ao famoso tango de Gardel, mas à loja do estilista Ney Galvão, em Itabuna, na Bahia. Como ele não encontrava roupas de que gostava, abriu seu negócio com o nome da música. “O local começou a ser frequentado por travestis e transexuais. Na mesma mesa de Ney sentavam juristas, gays. Não havia preconceito no interior da Bahia. Ney veio conhecer o preconceito quando mudou de estado”, afirmou Ronaldo. Ney Galvão assumiu o lugar de Clodovil no extinto “TV Mulher”, apresentado por Marília Gabriela, na Globo dos anos 80.
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Fotos: AgNews

Exatamente para falar dessa onda de intolerância de todas as formas, principalmente sexual, Ronaldo mostra que a moda pode sim transcender o simples ato de vestir e jogar “poesia nesse terreno árido”. Lembrando que o Brasil é o país onde ocorrem mais assassinatos de travestis no mundo, o estilista mineiro levantou mais uma vez sua bandeira fashion (e sensível) como porta-voz. Fez um um desfile que vai muito além do que se usa ou não se usa. Mostrou como se deve pensar e agir de forma a aceitar os seres humanos como são, independentemente da orientação sexual.
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Fotos: AgNews

No palco do teatro, os modelos entravam com os vestidos justos, estilo ladylike, lembrando os modelos dos anos 30 e 40, com desenhos variados,estilo trompe-d´oiel, criando babados, pregas, gravata, laços, corselets e outros motivos estampados. Algum com uma capa mais larga atrás, com tecidos adamascados, outros com mangas de tule, golas mais altas, laços, rendas. Todos lindamente desfilados pelos modelos que escolheram assumir sua sexualidade enfrentando todos os obstáculos com tal decisão.
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Modelos de lingerie no fim da apresentação (Foto: AgNews)

O desfile realizado há um ano, em que a mensagem era o amor em todas as suas formas pode ser considerado o start dessa ideia de transgender do estilista. O recado, porém, vinha principalmente nas roupas, que podiam ser usadas por todos os sexos. Agora, a roupa era totalmente feminina para ser usada por pessoas que nasceram homens, mas com alma feminina. Se, como Ronaldo Fraga diz, uma roupa têm o poder libertador, que um desfile tenha o poder de transformar o não-preconceito em tendência de alma. Na trilha sonora, “Bandolins”, de Oswaldo Montenegro, abriu a apresentação. E o tango de Gardel fechou, com os 28 modelos em duplas dançando de lingerie. Sim, mais uma vez, muita gente saiu chorando do teatro. Inclusive eu.
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Ronaldo Fraga (Foto: AgNews)

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